Salve, medievalistas!
Há uma semana aconteceu
a sexta edição da Oenach na Tailtiu, um dos eventos responsáveis
pela difusão do meio nerd-medievalista no Rio de Janeiro. A última
edição havia acontecido em 2016, então já tinha aí um hiato bem
grande pra deixar a gente com saudades do evento!
Oenach na Tailtiu,
em gaélico, significa algo como Reunião de Tailten. E Tailten, por
sua vez, é uma figura mitológica irlandesa pré-cristã, que teria
se sacrificado para arar os campos da Irlanda e alimentar a
população. Em sua honra, seu filho adotivo Lugh – outro herói da
mitologia irlandesa – teria estabelecido uma tradição de jogos
funebres, que durariam vários dias e culminariam com o grande
festival da colheita (Lughnasah, que até hoje é um dos
quatro sabás anuais da tradição celta).
Ou seja, trata-se de um evento recriacionista da cultura celta irlandesa, com inspiração direta em um tradicional evento histórico. O nome dos jogos fúnebres originais (que aconteceram durante boa parte da Idade Média na Irlanda, até o séc. XII, quando cessaram devido à invasão normanda) é Óenach Tailten e os organizadores do evento carioca moderno usam uma grafia ligeiramente diferente de propósito, para indicar que o seu evento é inspirado no festival original, mas não é o mesmo.
O público do evento
podia se aliar a um dos quatro times: Connacht, Leinster, Munster e
Ulster, que são justamente as províncias da Irlanda, e participar
de diversas competições bem amigáveis, desde arremeço de lança
até disputa de discurso de guerra.
Ou, se você quisesse só
comer (muito), beber (muito) e deitar na grama pra descansar, era uma
ótima opção também. Parte das bebidas no evento era cerveja
artesanal, produzida pelos próprios organizadores, de excelente
qualidade e vendida a preços bem acessíveis – uma red ale
por 10 airgid, por exemplo. Airgid é a moeda corrente no evento (pra
simplificar, 1 airgid = 1 real).
Para os nerds fãs de
Senhor dos Anéis, era possível se sentir em pleno Condado: um farto
banquete sendo servido (sério, comida em quantidade e qualidade pra
hobbit nenhum botar defeito), a música irlandesa tocando, o cenário
bucólico em volta (e no meu caso um cachimbo sendo pitado, pra
completar).
Rodas de queijos, cestas de pães, manteiga, frutas frescas e frutas secas. Batatas em conserva, num azeite levemente apimentado. Ovos de codorna e alho cozidos. Nozes e castanhas. Bolos e tortas. Peixe, frango, costela de boi, linguiças, cogumelos e sopas feitas no campfire. Vinho fluindo do barril para os canecos e horns. A definição de fartura numa mesa ornamentada com guirlandas, pinhas, ramos de trigo, flores e velas.
O grupo Ceili de danças
irlandesas e a banda Tailten (que é a banda dos organizadores do
evento) fizeram apresentações muito animadas!
No sábado, primeiro dia,
uma garoa fina e constante refrescou a tarde e noite do evento, quase
como se o céu quisesse colaborar com o clima irlandês. No domingo
os deuses exageraram um pouquinho e mandaram chuva de verdade, mas
que não foi nem de longe capaz de estragar a festa. Os jogos
funebres viraram jogos aquáticos, com direito a vikings jogando
vôlei usando um crânio como bola e uma parede de pedra como rede
(parece a descrição de cena de uma partida de RPG, mas foi real –
fora o fato de que o crânio e a parede de pedra eram de isopor).
Pela terceira vez, o
evento aconteceu no camping Escola dos Escoteiros do RJ, na cidade de
Magé. O ingresso ($160 reais para os dois dias) incluía o banquete
que foi oferecido ao longo do dia, mas não as cervejas, que deviam
ser compradas no evento. Havia opções de valores diferenciados pra
quem queria curtir apenas um dia de evento e combos com caravana
saindo do Rio e pernoite nas tendas celtas oferecidas pela própria
organização.
De todos os eventos sobre os quais falo aqui no blog, a Oenach é de longe o que é organizado com mais carinho e dedicação. Prova disso é que, mesmo com chuva, não havia quem não saísse feliz de ter participado. Quem conhece sabe que os organizadores fazem por amor à reunião e à cultura celta, e isso faz toda a diferença na forma como o evento acontece, fica visível nos pequenos detalhes.
Só os deuses sabem
quando eles vão decidir fazer outra edição, mas eu já vou estar
aqui esperando ansiosamente.
Veja as resenhas das edições anteriores:
2015 |
2016 |
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