Nesse último final de
semana rolaram as sessões do tão esperado concerto e eu, como
medievalista e nerdão inveterado, não poderia deixar de ir. E
quando eu digo "tão esperado", é literal, porque o
ingresso já tava comprado há uns seis meses, hehehe...
Já comentei em outros
posts aqui do blog sobre como considero que o Senhor dos Anéis,
tanto na versão dos livros quanto dos filmes, foi algo importante
pra formar o que hoje é o medievalismo na cultura pop. Um evento desses, então, é uma coisa que a gente não poderia deixar de ver.
A música do compositor
canadense Howard Shore sempre foi um dos elementos que fez da
trilogia de O Senhor dos Anéis algo tão especial. Parte do que nos
faz imergir tão profundamente na Terra Média é que cada cenário
tem sua música própria, única, indistinguível. O maior exemplo de
todos talvez seja Concerning Hobbits, a música que nos faz
automaticamente pensar no Condado e sua atmosfera pacífica e
bucólica. Pessoalmente, minhas favoritas são as músicas tema de
Rohan, como The King of the Golden Hall e Return to Edoras
(que na verdade não foram tocadas ontem, porque são do segundo
filme). As músicas das cenas de ação, como A Knife in the Dark,
com seus poderosos arranjos de coral, tem o poder de provocar tensão
e sensação de urgência.
(Inclusive, vale dizer
que um dos grandes problemas da trilogia do Hobbit é não ter criado
essa atmosfera de imersão nos cenários com músicas tão marcantes,
mas isso é assunto pra ser desenvolvido em outro post).
Howard Shore e Peter Jackson, 2002, foto de David Gleeson |
As sessões aqui em São
Paulo rolaram no Espaço das Américas, com a Orquestra Sinfônica
Villa Lobos e condução do maestro Adriano Machado. Ver essas
músicas ao vivo é uma experiência nova. Com mais de 250 músicos
ao vivo, é possível perceber a composição de uma forma diferente
e aproveitar um pouco melhor a riqueza dos arranjos.
Em muitos momentos era
possível perceber a presença de instrumentos que não brilham tanto
da versão editada para os filmes, e em outros momentos alguns
instrumentos foram exautados. Nas partes do Condado, por exemplo, a
linha do violão (acho que era o violão, pelo menos) foi tocada num
volume consideravelmente maior, permitindo uma outra percepção.
E a maior diferença de
todas fica nas partes do coral. Por mais que se siga a partitura, a
voz é algo que varia mais do que os instrumentos, então ver o coral
e os solistas cantando as músicas ao vivo foi outra coisa. Nos
solos, especialmente, era possível notar as variações e diferenças
de interpretação nas músicas (o que é, via de regra, o que faz
música ao vivo ser algo tão especial). Imagino que os solistas de canto sejam músicos gringos que tenham vindo especialmente para as apresentações por aqui, mas não busquei essa informação precisamente (se alguém souber, pode colocar aqui nos comentários).
Como crítica, vale dizer
que o espaço do espetáculo não foi muito bem pensado. As cadeiras
eram desconfortáveis pra ficar mais de três horas sentado, eu saí
de lá com as costas destruídas. Os setores dos acentos eram muito
planos, não havia a variação de altura necessária para que as
pessoas nas fileiras mais afastadas pudessem ver propriamente.
Vale dizer que o filme em
si, de certa forma, atrapalha um pouco. Parece irônico, mas o fato
do filme ser exibido na íntegra no telão, na minha opinião, mais
atrapalha do que colabora com a experiência. Os filmes a gente pode
ver em casa (a maioria de nós já viu várias vezes); ali no
concerto o foco deveria estar inteiro na orquestra e nos músicos,
mas quando a gente olhava pra frente e o telão estava muito maior do
que os músicos em si, ficava até difícil não olhar pro filme
rolando. Sei que a proposta era essa (ver o filme com música ao
vivo), o que não deixa de ser legal, mas poderia ser ainda melhor se
o foco fosse de fato a orquestra.
Mas isso são comentários
de um fã crítico que na verdade saiu bem feliz do espetáculo. Como
eu disso no início do post, O Senhor dos Anéis, é uma das obras
responsáveis por difundir a visão romantizada da Idade Média e
portanto criar tantos medievalistas na nossa geração. Ver essas
músicas executadas ao vivo é algo especial que qualquer fã
valoriza muito.
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