A noite era nublada, a
chuva começava a cair, fraca mas insistente. Porém isso não
desanimava os viajantes que vinham de longe para aproveitar aquela
noite especial.
Chegando, era possível
ver desde longe: as barracas da feira pulsavam com mercadores
ansiosos pela chegada dos primeiros visitantes. À distância, o som
metálico de uma bigorna trabalhando podia ser ouvido,
simultaneamente a um trio de bardos tocando violino, violão e
bandolim. Era o quinto ano consecutivo do Jantar Medieval Ordo
Draconis Belli começando.
Os deuses haviam
agraciado a Ordo Draconis Belli com mais um ano de existência, o oitavo desde o
inicio da jornada do clã, e para comemorar os guerreiros mais uma vez
promoviam um festival, que por tradição já atraía viajantes de
diversas terras.
Quem chegava encontrava
belas mesas guarnecidas com pães, pastas e queijos. O vinho e a
cerveja logo começariam a fluir. A chuva insistente fazia com que os
visitantes se abrigassem no espaço coberto do salão principal, que
não tardaria a se transformar num grande espaço de dança. O trio
de bardos que fazia a primeira apresentação da noite entoava tradicionais canções celtas.
– Qual o nome deste
grupo musical? – perguntou um viajante curioso que entrava no
salão.
– Thistle – respondeu
alguém por ali.
– Como as flores?
– Não poderia haver
nome mais apropriado, não é? – disse o outro, sem tirar os olhos
da barda ao centro, que não apenas cantava como tocava o violino.
Apesar da chuva, os
mercadores faziam o possível para atrair clientes. No centro do
mercado molhado, um pelourinho vazio servia de aviso àqueles que
ousassem causar problemas – mas a noite foi tão tranquila que os
únicos a ocuparem o instrumento de pública humilhação foram
visitantes curiosos e brincalhões que nada deviam às autoridades.
Também na área central do mercado havia uma arena improvisada com
cordas, estacas e fardos de feno, guarnecida até com armas falsas,
feitas de um estranho material macio e flexível, para aqueles que
quisessem se divertir e acertar seus companheiros sem risco de lhes
tirar sangue.
Para ajudar os mercadores
a atrair o ouro dos viajantes, um casal de experientes bardos tocava
na área do mercado.
– Esses não são
aqueles bardos itinerantes, Olam Ein Sof?
– São eles mesmos!
– Oras, soube que eles
estavam viajando e tocando pelo Velho Mundo...
– Ah, eles vão em
voltam, mas todo ano estão aqui, nunca deixam de tocar nesse
festival.
No salão principal, o
prato principal foi servido: travessas de carne de porco e frango
foram colocadas nas mesas. Para espantar o frio nos ossos, havia
também caldos fumegantes de cenoura e ervilha. Tomou conta do palco
então um outro grupo de bardos, que se denominavam Oaklore. Por mais
de uma hora emocionou o público com canções que falam da Terra
Média, de Skyrim e de outros lugares lendários.
Tal foi a inspiração provocada pelos bardos do Olklore que uma das visitantes do evento decidiu marcar na pele, ali na hora, o símbolo de um dos reinos da Terra Média!
– Fogo! – gritou
alguém.
– Onde? – perguntaram
outras pessoas assustadas.
E a resposta estava na
verdade na boca de artistas pirofágicos que, do lado de fora do
salão, deafiavam a garoa noturna, cuspindo labaredas para o alto.
Vendo que a multidão
apreciava as chamas, dois guerreiros decidiram chamar atenção. Um
deles munido de arco e flecha, o outro de uma tocha. Ninguém sequer
piscou enquanto o arqueiro mandava flechas incendiárias em direção
a duas tendas abandonadas, que queimaram para acrescentar calor e luz
à noite.
Dentro do salão
principal, um arauto anunciou a entrada do grupo Draumur, e as
pessoas abriram espaço para a apresentação de danças palacianas
que tradicionalmente ocorria no festival.
A noite se aproximava do
fim e, com a ausência de baderneiros que merecessem punição, os guerreiros do clã ficaram tão entediados que começaram a lutar
entre si. O som do choque de aço contra aço, contra madeira e
contra couro preencheu o ar, as pessoas em volta gritavam torcendo
por seus combatentes favoritos.
Finalmente o último
grupo de bardos a se apresentar na noite – e o mais esperado –
assumiu o palco.
– Ei, não havia uma
barda nesse grupo?
– Ela deu à luz uma
criança recentemente,
– Que os deuses a
abençoem.
A apresentação começou
e o o bardo que ficava no centro do grupo proferiu a a mesma frase
que ele repetia todos os anos, mas que sempre surtia o mesmo efeito
de animar o ambiente:
– Nós somos o Taberna
Folk! Bebam, dancem e aproveitem como se estivesse numa taverna dos
tempos antigos!
As pessoas obedeceram, e
ignorando a tontura derivada de litros de cerveja (ou talvez
incentivados por ela), dançaram, beberam e festejaram até o último
momento, quando chegou a hora das caravanas começarem a retornar
para suas respectivas terras, deixando para trás a fumaça das
fogueiras que se apagavam e levando as lembranças de uma grande
noite de festa.
E assim foi o V Jantar
Medieval Ordo Draconis Belli!
Esse ano decidi fazer uma
resenha de um jeito diferente, pra variar. Curtiram? O evento rolou nesse último sábado, 13 de abril, como sempre em Socorro/SP. Os ingressos custaram entre R$ 145,00 (1º lote)
e R$ 165,00 (2º lote). Para quem saía da capital, havia os ônibus
oficiais do evento saindo do metrô Carandiru por R$ 50,00 (ída e
volta). Para quem ía por conta própria até Socorro, o
estacionamento era gratuito.
Se você não conseguiu
ir esse ano, não se preocupe – ano que vem certamente tem mais!
Confira as resenhas da edições anteriores do Jantar da Ordo:
II Jantar Medieval Ordo Draconis Belli (2016) |
III Jantar Medieval Ordo Draconis Belli (2017) |
IV Jantar Medieval Ordo Draconis Belli (2018) |
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