Salve, vikings e medievalistas!
Finalmente chegamos à última parte da "história passada" do evento Old Norse. O texto dessa publicação é o último que diz respeito a acontecimentos nas edições passadas da festa, ou seja, nosso próximo post já será sobre os acontecimentos deste ano na Saga Old Norse!
A edição deste ano já tem nome, Capítulo IV - O Funeral, e data, 30 de Junho. Logo vocês terão mais informações sobre os personagens que estarão presentes. Por enquanto, fiquem com a continuação do Capítulo III - Yule:
O texto que vocês estão prestes a ler é a narrativa romanceada de cenas que realmente aconteceram durante a edição de 2017 do Old Norse! Ou seja, as pessoas que estiveram presentes no evento puderam ver em primeira mão esses personagens, acompanhar seus atos e escutar suas falas.
Seja você alguém que não esteve lá e quer saber como aconteceu, ou alguém que esteve e quer relembrar esses acontecimentos dos quais você fez parte, este texto é para relembrar os eventos passados na saga e preparar o terreno para os acontecimentos deste ano.
Caso você não tenha lido os posts anteriores, são estes aqui:
Capítulo II – Portões de Valhala (continuação) |
Capítulo III – Yule (prelúdio) |
E agora, vamos à continuação do Capítulo III – Yule (história de Philippe Meier e Jansen Nunes, e adaptação em texto para esta publicação por mim, Skald Rafael), com imagens feitas durante as encenações por Daniel Carvalho:
O dia amanheceu já com muitos visitantes no acampamento onde ocorreria a celebração do Yule. Antes que o sol aparecesse, Astrid já estava acordada em sua tenda, e quando Earnán acordou a encontrou sentada do lado de fora, sozinha, olhando para as cinzas da fogueira da noite anterior e refletindo tristemente.
Ele a abraçou por trás, envolvendo-a com seus braços fortes, e beijou seu pescoço. Mas Astrid sequer esboçou uma reação, e ele apenas ficou ali, tentando transmitir forças para ela, pois sabia o que a afligia.
Juntos, voltaram ao grande salão, onde o Rei Eiðr dormia, e o encontraram no chão, sobre peles, perto da grande cadeira de madeira que ele ocupava durante os things. Certamente não parecia um rei, mas simplesmente um bêbado que havia entrado naquele salão por engano e dormido ali perto do calor do fogo. As duas jovem thralls que passavam as noites com o Rei estavam ali, mas já estavam acordadas.
– Inger, quanto ele bebeu ontem à noite? – perguntou Astrid a uma das jovens.
– Muito, minha senhora...
Gentilmente, Astrid tentou acordar o pai. Tentou dizer-lhe que era hora de levantar e receber seus convidados para o Yule, e mostrar-lhes sua força. Insistiu durante alguns minutos, sacudindo os ombros largos do pai e falando perto de seu ouvido, sem sucesso. Sem que ela percebesse as lágrimas vieram, enquanto ela suplicava para que ele não desistisse e levantasse.
Mas ele sequer acordou. Então com ajuda das duas jovens e de Earnán, ela levou o pai para a cama. Durante algumas horas ficou ali, cuidando dele, até a hora de receber os convidados no lugar do rei. Então deixou ordens para que as duas jovem thralls cuidassem dele, limpou as lágrimas, deu o braço para Earnán, e juntos saíram novamente do salão para o frio da tarde, em direção ao acampamento no meio das árvores.
Conforme se aproximavam da clareira com as tendas, viram que uma grande quantidade de pessoas já estava ali reunida, e a coragem de Astrid falhou.
– Earnán, eu não sei se consigo...
– Quer que eu fale por você?
– Você sabe o que dizer?
Mas ele com certeza sabia. Ele estivera presente todas as noites com Thorbjörg e Einar enquanto o Yule era planejado. Na verdade, ele estivera mais presente do que o próprio Rei Eiðr. É claro que Earnán saberia o que dizer.
Ao ver Astrid e Earnán se aproximando, um dos homens fez soar um chifre em meio à multidão, anunciando a chegada dos dois. O povo fez silêncio e timidamente observou enquanto eles se aproximavam e ocupavam o centro da grande clareira.
– Povo do Norte, aproxime-se – disse Earnán, e aguardou que as pessoas fechassem o círculo em volta deles antes de continuar. – Eu sei que muitos de vocês ficaram descontentes com a minha chegada há um ano, mas como se lembram, Astrid, minha amada e nossa futura rainha, foi salva. Nós temos passado por muitas dificuldades e o inverno, mais uma vez, está sendo rigoroso. Por esse motivo a princesa Astrid mandou chamar uma velha conhecida do povo do Norte.
– Sim, meu povo – tentou falar Astrid. – Mandei chamar a völva Thorbjörg, a única das dez irmãs adivinhas que ainda vive. Ela virá em breve para...
A voz de Astrid fraquejou. Earnán tocou seu ombro e ao mesmo tempo fez um sinal sutil para alguém no meio da multidão. Atendendo ao sinal de Earnán, um homem abriu caminho, guiando uma figura encapuzada.
– Meu senhor, Thorbjörg está aqui – disse o homem.
– Senhora Thorbjörg, é uma honra receber a Völva – disse Earnán.
Então foi oferecida a Thorbjörg uma boa recepção, como era costume ao se receber mulheres desse tipo. Todos a cumprimentaram com cerimônia, e ela retribuía conforme julgava que devia, a cada homem.
Earnán a conduziu pelas mãos até um assento alto e um thrall trouxe comida e bebida.
– Senhora, por favor sirva-se com hidromel e comida. Há corações fervidos de todas as espécies de animais que pode ver nesta fazenda – disse Earnán indicando todo aquele território com os braços abertos.
Thorbjörg comia e olhava para longe, como se estivesse descortinando toda a extensão da propriedade, mas permanecendo em silêncio.
– Senhora Thorbjörg, como sabe, é chegado o auge do inverno. O céu se escureceu. A caça foi pouca e alguns homens não retornaram. A geada destruiu a maior parte da colheita. Muitos animais do rebanho morrem de frio e de fome. Os rios congelaram, há poucos peixes. Quase não há comida para as próximas semanas. A senhora enxerga como será a estação que se avizinha? Essa escassez por que passamos terá fim?
– Earnan, não me tomes por ingênua, pois tenho olhos para ver e ouvidos para ouvir. Sei o que se passa no Norte e sei que há mais entre tuas preocupações do que o rigor do inverno – disse a völva, fazendo sua voz ser ouvida pela primeira vez para a multidão que assistia.
– É verdade. Convidamos todos os líderes, mesmo os insatisfeitos, para a celebração do Yule. Pela batalha resgatamos Astrid, mas não a confiança dos muitos que se ressentem de um príncipe estrangeiro. Os povos se unirão a nós neste Yule e a insatisfação de todos chegará ao fim?
– Eu entendo – disse Thorbjörg simplesmente.
O mesmo homem que havia guiado a völva até ali então apareceu novamente, trazendo um cesto com um chifre para beber hidromel, um ramo de sempre-viva e as pedras rúnicas de Thorbjörg.
– Tragam a mim todas as mulheres que tenham o conhecimento para realizar os encantamentos conhecidos como Vardlokur, os cantos para despertar e atrair os espíritos!
Durante alguns momentos, todos procuraram entre os ouvintes, e não encontram ninguém.
– Senhora, não há mulher alguma com tal conhecimento aqui...
Uma outra mulher então interrompeu, falando do meio do público.
– Eu não tenho grande instrução, nem sou uma sábia, mas Halldís, minha mãe de criação, me ensinou, na Islândia, o conhecimento que ela chamava Vardlokur.
– Então és mais sábia do que eu poderia imaginar. Qual é seu nome?
– É Gudrídr. Mas eu não tenho intenção de interferir nesta prática, pois sou uma mulher cristã – e dizendo isso, a mulher segurou o cruxifixo que trazia ao pescoço.
– Poderia acontecer de tudo... Seria de grande ajuda aos homens por aqui, sem que tu te tornasses uma mulher pior com isso – disse a völva. – Mas é Earnan quem eu encarrego de me prover aqui com aquilo de que preciso.
– Gudrídr, eu te peço, ajude a völva...
A mulher ficou com o olhar baixo, pensativa, em dúvida.
– Você também vive neste povoado! – insistiu Earnán. – Sabe que precisamos nos unir e colocar um ponto final nisto! O granizo trouxe o caos e a fome no inverno passado. Precisamos de toda ajuda para que este tempo de catástrofe seja, ao invés, de transformação e renascimento!
– Pois então digo que sim, farei como me pede, mas preciso de outras que me ajudem, pois os espíritos da natureza se alegram com as vozes de muitas.
Algumas mulheres atenderam ao chamado de Gudrídr e formaram um círculo ao redor da Völva, afastando a multidão para ficarem em volta de Thorbörg, que continuava sentada. Gurdídr então recitou o cântico tão belamente e tão bem que julgaram nunca ter ouvido antes com tão bela voz.
Quando terminou, Thorbörg levantou de seu lugar, foi até Gudrídr e segurou suas mãos.
– Eu te agradeço. Muitos espíritos agora estão próximos de nós, pois acharam muito belo o que foi recitado. Mesmo aqueles que antes queriam se afastar de nós, sem prestar qualquer atenção aos nossos apelos – a völva fez uma pausa e se dirigiu a todo o povo antes de continuar – Agora vejo com clareza muitas coisas que antes eram negadas tanto a mim quanto aos outros. Posso dizer que as desavenças terminarão neste inverno, e que o que for colhido da terra melhorará com a chegada da primavera; mas vejo uma grande tristeza se aproximar em um inverno futuro.
Dramaticamente a völva permitiu alguns momentos de silêncio, em que as pessoas trocaram olhares e certamente se perguntaram que grande tristeza era aquela que viria num próximo inverno.
– A ti, Gudrídr, eu hei de recompensar pelo auxílio que nos prestaste, pois as previsões para o teu futuro estão agora totalmente claras para mim. Tu terás núpcias aqui nestas teras, que serão as mais honoráveis. Contudo, não durarão tanto, pois os teus caminhos te levam a outro lugar, com outro povo, e de lá partirá de ti uma linhagem grande e boa; sobre os teus descendentes brilhará uma luz resplandecente. E agora fica bem e sã, minha filha.
Sem esconder sua satisfação com as palavras da völva, Gudrídr fez uma reverência e voltou para o meio da multidão que assistia.
– Já sobre tu e tuas desavenças, Earnán, nada dizem os espíritos, pois nada têm a dizer. Ora, não veem que já estão reunidos desde cedo? Que um convidou à sua casa e o outro viajou de bom grado para celebrar o solstício? A desavença entre você e os povos já está morta. Estes são tempos felizes, celebrem! Celebrem a morte do inverno e o renascimento do Sol! Festejem o Yule!
Animadas e incentivadas, as pessoas agradeceram à völva.
– São ótimas notícias, Povo do Norte! É hora de celebrar! Vamos em direção às fogueiras: lá comemoraremos!
O chifre soou novamente, convocando as pessoas para as festividades que começariam naquele momento e durariam a noite inteira. O povo foi conduzido pela floresta, enquanto o sol se punha, para uma área com tendas e fogueiras, onde aconteceria a parte noturna da celebração.
Música, dança e comida farta marcaram a noite, e por várias horas aquelas pessoas esqueceram todos os rigores do inverno. Não havia diferenças entre vizinhos, todos faziam parte de um mesmo povo.
Apenas uma pessoa não foi capaz de aproveitar toda aquela celebração: Astrid. Embora tentasse dar atenção a todos os convidados, muitos dos quais haviam vindo de longe, seus pensamentos não deixavam seu pai, o Rei Eiðr, que em nenhum momento saiu de seu salão, onde ela o havia deixado naquela manhã.
O Yule foi um absoluto sucesso, os deuses estavam contentes e o povo também. Na memoria de todos aquela noite ficaria marcada como uma boa lembrança, que traria forças para enfrentar as adversidades do novo período que começava. Quanto ao futuro do Rei Eiðr e sua filha Astrid, apenas as Nornas poderiam dizer o que estaria por vir...
Ele a abraçou por trás, envolvendo-a com seus braços fortes, e beijou seu pescoço. Mas Astrid sequer esboçou uma reação, e ele apenas ficou ali, tentando transmitir forças para ela, pois sabia o que a afligia.
Juntos, voltaram ao grande salão, onde o Rei Eiðr dormia, e o encontraram no chão, sobre peles, perto da grande cadeira de madeira que ele ocupava durante os things. Certamente não parecia um rei, mas simplesmente um bêbado que havia entrado naquele salão por engano e dormido ali perto do calor do fogo. As duas jovem thralls que passavam as noites com o Rei estavam ali, mas já estavam acordadas.
– Inger, quanto ele bebeu ontem à noite? – perguntou Astrid a uma das jovens.
– Muito, minha senhora...
Gentilmente, Astrid tentou acordar o pai. Tentou dizer-lhe que era hora de levantar e receber seus convidados para o Yule, e mostrar-lhes sua força. Insistiu durante alguns minutos, sacudindo os ombros largos do pai e falando perto de seu ouvido, sem sucesso. Sem que ela percebesse as lágrimas vieram, enquanto ela suplicava para que ele não desistisse e levantasse.
Mas ele sequer acordou. Então com ajuda das duas jovens e de Earnán, ela levou o pai para a cama. Durante algumas horas ficou ali, cuidando dele, até a hora de receber os convidados no lugar do rei. Então deixou ordens para que as duas jovem thralls cuidassem dele, limpou as lágrimas, deu o braço para Earnán, e juntos saíram novamente do salão para o frio da tarde, em direção ao acampamento no meio das árvores.
Conforme se aproximavam da clareira com as tendas, viram que uma grande quantidade de pessoas já estava ali reunida, e a coragem de Astrid falhou.
– Earnán, eu não sei se consigo...
– Quer que eu fale por você?
– Você sabe o que dizer?
Mas ele com certeza sabia. Ele estivera presente todas as noites com Thorbjörg e Einar enquanto o Yule era planejado. Na verdade, ele estivera mais presente do que o próprio Rei Eiðr. É claro que Earnán saberia o que dizer.
Ao ver Astrid e Earnán se aproximando, um dos homens fez soar um chifre em meio à multidão, anunciando a chegada dos dois. O povo fez silêncio e timidamente observou enquanto eles se aproximavam e ocupavam o centro da grande clareira.
– Povo do Norte, aproxime-se – disse Earnán, e aguardou que as pessoas fechassem o círculo em volta deles antes de continuar. – Eu sei que muitos de vocês ficaram descontentes com a minha chegada há um ano, mas como se lembram, Astrid, minha amada e nossa futura rainha, foi salva. Nós temos passado por muitas dificuldades e o inverno, mais uma vez, está sendo rigoroso. Por esse motivo a princesa Astrid mandou chamar uma velha conhecida do povo do Norte.
– Sim, meu povo – tentou falar Astrid. – Mandei chamar a völva Thorbjörg, a única das dez irmãs adivinhas que ainda vive. Ela virá em breve para...
A voz de Astrid fraquejou. Earnán tocou seu ombro e ao mesmo tempo fez um sinal sutil para alguém no meio da multidão. Atendendo ao sinal de Earnán, um homem abriu caminho, guiando uma figura encapuzada.
– Meu senhor, Thorbjörg está aqui – disse o homem.
– Senhora Thorbjörg, é uma honra receber a Völva – disse Earnán.
Então foi oferecida a Thorbjörg uma boa recepção, como era costume ao se receber mulheres desse tipo. Todos a cumprimentaram com cerimônia, e ela retribuía conforme julgava que devia, a cada homem.
Earnán a conduziu pelas mãos até um assento alto e um thrall trouxe comida e bebida.
– Senhora, por favor sirva-se com hidromel e comida. Há corações fervidos de todas as espécies de animais que pode ver nesta fazenda – disse Earnán indicando todo aquele território com os braços abertos.
Thorbjörg comia e olhava para longe, como se estivesse descortinando toda a extensão da propriedade, mas permanecendo em silêncio.
– Senhora Thorbjörg, como sabe, é chegado o auge do inverno. O céu se escureceu. A caça foi pouca e alguns homens não retornaram. A geada destruiu a maior parte da colheita. Muitos animais do rebanho morrem de frio e de fome. Os rios congelaram, há poucos peixes. Quase não há comida para as próximas semanas. A senhora enxerga como será a estação que se avizinha? Essa escassez por que passamos terá fim?
– Earnan, não me tomes por ingênua, pois tenho olhos para ver e ouvidos para ouvir. Sei o que se passa no Norte e sei que há mais entre tuas preocupações do que o rigor do inverno – disse a völva, fazendo sua voz ser ouvida pela primeira vez para a multidão que assistia.
– É verdade. Convidamos todos os líderes, mesmo os insatisfeitos, para a celebração do Yule. Pela batalha resgatamos Astrid, mas não a confiança dos muitos que se ressentem de um príncipe estrangeiro. Os povos se unirão a nós neste Yule e a insatisfação de todos chegará ao fim?
– Eu entendo – disse Thorbjörg simplesmente.
O mesmo homem que havia guiado a völva até ali então apareceu novamente, trazendo um cesto com um chifre para beber hidromel, um ramo de sempre-viva e as pedras rúnicas de Thorbjörg.
– Tragam a mim todas as mulheres que tenham o conhecimento para realizar os encantamentos conhecidos como Vardlokur, os cantos para despertar e atrair os espíritos!
Durante alguns momentos, todos procuraram entre os ouvintes, e não encontram ninguém.
– Senhora, não há mulher alguma com tal conhecimento aqui...
Uma outra mulher então interrompeu, falando do meio do público.
– Eu não tenho grande instrução, nem sou uma sábia, mas Halldís, minha mãe de criação, me ensinou, na Islândia, o conhecimento que ela chamava Vardlokur.
– Então és mais sábia do que eu poderia imaginar. Qual é seu nome?
– É Gudrídr. Mas eu não tenho intenção de interferir nesta prática, pois sou uma mulher cristã – e dizendo isso, a mulher segurou o cruxifixo que trazia ao pescoço.
– Poderia acontecer de tudo... Seria de grande ajuda aos homens por aqui, sem que tu te tornasses uma mulher pior com isso – disse a völva. – Mas é Earnan quem eu encarrego de me prover aqui com aquilo de que preciso.
– Gudrídr, eu te peço, ajude a völva...
A mulher ficou com o olhar baixo, pensativa, em dúvida.
– Você também vive neste povoado! – insistiu Earnán. – Sabe que precisamos nos unir e colocar um ponto final nisto! O granizo trouxe o caos e a fome no inverno passado. Precisamos de toda ajuda para que este tempo de catástrofe seja, ao invés, de transformação e renascimento!
– Pois então digo que sim, farei como me pede, mas preciso de outras que me ajudem, pois os espíritos da natureza se alegram com as vozes de muitas.
Algumas mulheres atenderam ao chamado de Gudrídr e formaram um círculo ao redor da Völva, afastando a multidão para ficarem em volta de Thorbörg, que continuava sentada. Gurdídr então recitou o cântico tão belamente e tão bem que julgaram nunca ter ouvido antes com tão bela voz.
Quando terminou, Thorbörg levantou de seu lugar, foi até Gudrídr e segurou suas mãos.
– Eu te agradeço. Muitos espíritos agora estão próximos de nós, pois acharam muito belo o que foi recitado. Mesmo aqueles que antes queriam se afastar de nós, sem prestar qualquer atenção aos nossos apelos – a völva fez uma pausa e se dirigiu a todo o povo antes de continuar – Agora vejo com clareza muitas coisas que antes eram negadas tanto a mim quanto aos outros. Posso dizer que as desavenças terminarão neste inverno, e que o que for colhido da terra melhorará com a chegada da primavera; mas vejo uma grande tristeza se aproximar em um inverno futuro.
Dramaticamente a völva permitiu alguns momentos de silêncio, em que as pessoas trocaram olhares e certamente se perguntaram que grande tristeza era aquela que viria num próximo inverno.
– A ti, Gudrídr, eu hei de recompensar pelo auxílio que nos prestaste, pois as previsões para o teu futuro estão agora totalmente claras para mim. Tu terás núpcias aqui nestas teras, que serão as mais honoráveis. Contudo, não durarão tanto, pois os teus caminhos te levam a outro lugar, com outro povo, e de lá partirá de ti uma linhagem grande e boa; sobre os teus descendentes brilhará uma luz resplandecente. E agora fica bem e sã, minha filha.
Sem esconder sua satisfação com as palavras da völva, Gudrídr fez uma reverência e voltou para o meio da multidão que assistia.
– Já sobre tu e tuas desavenças, Earnán, nada dizem os espíritos, pois nada têm a dizer. Ora, não veem que já estão reunidos desde cedo? Que um convidou à sua casa e o outro viajou de bom grado para celebrar o solstício? A desavença entre você e os povos já está morta. Estes são tempos felizes, celebrem! Celebrem a morte do inverno e o renascimento do Sol! Festejem o Yule!
Animadas e incentivadas, as pessoas agradeceram à völva.
– São ótimas notícias, Povo do Norte! É hora de celebrar! Vamos em direção às fogueiras: lá comemoraremos!
O chifre soou novamente, convocando as pessoas para as festividades que começariam naquele momento e durariam a noite inteira. O povo foi conduzido pela floresta, enquanto o sol se punha, para uma área com tendas e fogueiras, onde aconteceria a parte noturna da celebração.
Música, dança e comida farta marcaram a noite, e por várias horas aquelas pessoas esqueceram todos os rigores do inverno. Não havia diferenças entre vizinhos, todos faziam parte de um mesmo povo.
Apenas uma pessoa não foi capaz de aproveitar toda aquela celebração: Astrid. Embora tentasse dar atenção a todos os convidados, muitos dos quais haviam vindo de longe, seus pensamentos não deixavam seu pai, o Rei Eiðr, que em nenhum momento saiu de seu salão, onde ela o havia deixado naquela manhã.
O Yule foi um absoluto sucesso, os deuses estavam contentes e o povo também. Na memoria de todos aquela noite ficaria marcada como uma boa lembrança, que traria forças para enfrentar as adversidades do novo período que começava. Quanto ao futuro do Rei Eiðr e sua filha Astrid, apenas as Nornas poderiam dizer o que estaria por vir...
Continua na próxima edição...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe o seu comentário sobre este artigo