Salve, vikings e medievalistas!
Continuando a proposta de publicar os textos que contam a Saga do Old Norse, aqui está a segunda parte do primeiro capítulo, que narra os fatos acontecidos durante a primeira edição do evento.
Essa é uma parceria entre o Cena Medieval e a organização do Old Norse! Acompanhe a Saga para conhecer e imergir na história que está sendo contada a cada edição do evento:
O Old Norse é um evento com a proposta de proporcionar aos convidados uma imersão na cultura viking, e além disso tem a pretensão de criar uma nova Saga, com personagens e acontecimentos completamente fictícios, e permitir que os convidados de cada edição do evento presenciem e participem da construção dessa narrativa.
O texto anterior (veja aqui) era o conto que apresentava os personagens e narrava sua situação imediatamente antes da primeira edição do evento, que aconteceu em 2015. O texto que vocês lerão agora, escrito por Philippe Meier (um dos organizadores da festa), é a segunda parte do Capítulo I, e narra os acontecimentos da festa, que foram presenciados pelos convidados.
Se você não ainda não esteve nas edições do Old Norse, permita-se conhecer essa história! E se você esteve, relembre:
...Não se sabe ao certo como as famílias chegaram a um acordo quanto ao casamento, só se sabe que entre idas e vindas e muitas alfinetadas, o casamento foi marcado.
Alguns disseram que havia um interesse maior nisso tudo, um golpe, um mistério, uma história que ainda levaria muito tempo para se concluir. A única coisa que se sabia era que os noivos se olhavam apaixonados na ponta da grande mesa, e um segurava a mão do outro por baixo da pesada madeira de carvalho que servia de apoio para um gigante banquete que o chefe Ulaidh, pai Earnán, resolveu oferecer para o Rei Eiðr e os outros vikings. Um banquete para mostrar fartura.
Os patriarcas das duas famílias mediam forças em todos os aspectos, uma batalha eterna para provar que um era melhor que o outro. Mas o casal se fitava de uma forma tal que pareciam não ouvir as discussões entre seus pais, que não falavam mais de três palavras sem dirigir alguma ofensa ao outro.
- Não sei o que minha filha tem na cabeça – disse o Rei Eiðr, pai de Astrid - Na verdade, não sei o que eu tenho na cabeça para estar me dando ao trabalho de discutir um absurdo desses, só mesmo a Astrid para me arrumar uma dessas. Mas fazer o que? Ela sabe me convencer das coisas.
Em seguida, deu um belo murro na mesa que fez com que tudo tremesse e que pôde ser ouvido de muito longe.
- Enfim, lavo minhas mãos, fiz o que pude para impedir que essa união se estabelecesse, espero que minha filha saiba o que está fazendo. Só digo uma coisa... não esperem que os receba em minha casa, criaturas saltitantes das florestas, somente porque Astrid está tomando esta decisão irracional. E escute: se algum dia seu filho fizer algo que magoe Astrid, nem se dê ao trabalho de correr, pois vou caçar um por um.
Eiðr se levantou raivoso da mesa, sem permitir que Ulaidh dissesse uma palavra e se retirou do grande salão. Earnán e Astrid pareciam não acreditar que ele havia abençoado o casamento, mas ele o fez. Ela deu um vigoroso gole em seu chifre cheio de hidromel, que parecia mais dourado e saboroso que nunca. Earnán comeu duas uvas, abraçou sua amada e sussurou em seu ouvido:
- Eu te disse, não existem barreiras para o nosso amor, mal posso esperar para ficarmos juntos para sempre.
Mesmo com as famílias em constante briga, os noivos se mantiveram focados no casamento. E depois de muitas alfinetadas, disputas e discussões, finalmente chegou o grande dia.
O casamento aconteceu em terras irlandesas. Existem vários boatos sobre o porque da escolha do local. Uns dizem que Eiðr se recusou a receber os “seres saltitantes”, já outros que Astrid se apaixonou pelos encantos do lar de seu Earnán, e ainda existe a versão de que o ranzinza Jarl nórdico queria conhecer um pouco mais sobre o lugar de que sua filha tanto falava.
Pessoas não paravam de chegar de todos os cantos, muitos estavam realmente felizes, mas muitos outros foram mais pela curiosidade e até esperando que algo desse de errado. O casamento era algo muito errado, diziam alguns conservadores.
- Até que enfim você resolveu aparecer, Eiðr – começou Ulaidh, assim que a comitiva nórdica chegou. - Melhor tomar cuidado para não tropeçar nos próprios pés, não acho apropriado estar embriagado já tão cedo no dia do casamento de sua filha.
Ao ouvir essas palavras, o jarl nada fez além de olhar Ulaidh sarcasticamente e se dirigir para a sua pesada cadeira de madeira, acompanhado de seu cão que o seguia por todo o cantos. Por lá ficou largado, observando as pessoas chegando e se dirigindo para a farta mesa de pães e frutas.
Após alguns minutos, Eiðr fitou Ulaidh enquanto se sentava em uma cadeira posicionada ao lado da sua e disparou:
- Cuidado para não tombar, essas madeiras da Irlanda não me parecem confiáveis para se fazer estruturas resistentes como a dessa minha cadeira que mandei trazerem do norte para cá. Não queria correr o risco. Olha aquela casa, parece que vai ruir em algum momento. Preciso de algo forte para sustentar meus pesados músculos.
Ambos ficaram ali, na tenda reservada para os nobres, um analisando os convidados do outro.
- Selvagens, todos são selvagens - esbravejou Ulaidh enquanto via membros das familias nórdicas Haglaz e Myrox se digladiarem com espadas e escudos em uma espécie de jogo. - Olha! Agora estão rolando no chão, isso é um casamento e não uma daquelas reuniões sujas que vocês fazem nas terras de você.
Enquanto ria, Eiðr apontou para um ponto no gramado campo e perguntou:
- Por que aquelas pessoas estão saltitando em círculos? É assim que vocês irlandeses dançam?
Enquanto seus pais ficavam disputando forças, Astrid e Earnán se divertiam passeando entre as pessoas, dançando, participando dos jogos e se fartando.
Tudo correu muito bem durante o dia, apesar de alguns contratempos experimentados por algumas pessoas que garantem que o deus Loki estava presente na festa. Citaram, por exemplo, a espada da família que Earnán tinha obrigação de manter segura até a hora de cerimônia.
A arma desapareceu misteriosamente e apareceu tempos depois escodida entre as coisas dos irlandeses. Além da espada, várias pessoas tiveram seus pertences trocados com os de outros convidados, causando pequenas confusões. Todos sabiam que algumas coisas estavam acontecendo e viam suas consequências, porém ninguém sabia quem era o responsável ou como elas aconteciam. Todos menos um rapaz, que jura ter visto Loki travestido de mulher, com longos cabelos negros, sorrateiro, instigando pequenas discussões e se movimentando estranhamente pelos campos da festa.
Estava chegando a hora da cerimônia e um grupo de irlandeses ainda tentava convencer Earnán a desistir do casamento. Chegaram a discutir uma forma de sequestrar o rapaz e fazer parecer que ele fugiu do compromisso, mas toda vez que alguém pensava em fazer ou dizer algo contra os dois, desistia ao contemplar como o casal se olhava.
Astrid passou grande parte do dia se preparando e eis que chega a hora da cerimônia onde os dois juraram amor eterno.
Foi lindo, uma mistura de culturas inenarrável que deixou a todos, mesmo os mais céticos, imersos naquela atmofera de amor mútuo. Quem poderia pensar que, ao ver a felicidade de sua filha, o áspero Rei Eiðr olharia para Ulaidh e lhe estenderia a mão, e que esse gesto quase rude se transformaria num caloroso abraço?
A noite continuou, com o mais belo e tradicional som das gaitas, cordas e percussão dos clãs irlandeses Navar e Tailten.
Como terminou a festa? Muitos dos que estavam presentes não sabem dizer, estavam todos tão bem acompanhados de hidromel que de fato ficou dificil lembrar de muita coisa. Porém, no dia seguintese tinha uma certeza...
... Não existe guerra que possa vencer o amor.
Continua na próxima edição...
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