Salve,
medievalistas e apreciadores de hidromel!
Chegamos
ao décimo sétimo artigo em nossa série de resenhas de hidroméis
brasileiros, que começou lá na metade de 2016 e seguiu desde então,
sempre com um post por mês, em que provamos um hidromel nacional
acompanhado de um prato de culinária medieval. O hidromel deste mês
é décimo primeiro (e penúltimo) de 2017.
E o nosso
rótulo de novembro é o Kalèvala, de Niterói/RJ!
Sobre a
data, você não leu errado, caro leitor. Embora já estejamos quase
no natal, tivemos alguns contratempos em novembro, e a prova de
hidromel relativa àquele mês só pôde ser feita agora. Isso
significa que o hidromel de dezembro atrasará um pouco também: o
post deve ser publicado em início de janeiro, mas ao todo serão
doze hidromeis no ano de 2017, um por mês, como era nossa proposta
desde o início.
A
divulgação do Melhor Hidromel de 2017 segundo o Cena Medieval
também deve acontecer apenas em meados de janeiro, então fiquem
atentos.
Nós
provamos o Kalèvala em conjunto com a galera do Cozinha dos
Tronos! O video com a receita que preparamos para harmonizar deve
sair lá no canal nesse final de semana. E caso você não tenha
acompanhado, essa já é a nossa terceira participação no canal –
estivemos por lá duas vezes este ano, nas quais provamos os
hidroméis OldPony (fevereiro) e Skald (julho).
Agora ao
que interessa: os produtores do Kalèvala contam que a ideia surgiu
em 2015. Caio, estudante de engenharia química, e Erika, estudante
de secretariado executivo, aperfeiçoaram a receita até encontrar o
hidromel ideal para o próprio paladar. Como muitas histórias de
produtores que acabamos conhecendo, no início as vendas eram apenas
para amigos, mas o produto fez tanto sucesso que naturalmente surgiu
a ideia de uma hidromelaria própria.
A
inspiração do nome desse hidromel vem da obra de poesia épica
homônima composta por Elias Lönnrot, que é considerada a epopeia
nacional do povo Finlandês (mais ou menos como Os Lusíadas
para os portugueses, ou a Canção dos Nibelungos para os
alemães). O texto fala dos feitos de diferentes heróis e mitos
daquela cultura, e teve um papel importante no desenvolvimento da
identidade nacional finlandesa.
Ou seja,
um hidromel que foge da associação com os vikings (que é a mais
comum nesse meio), mas ainda faz homenagem à mitologia antiga,
optando por referenciar um ramo diferente da cultura dos países
nórdicos. Ponto positivo pela originalidade.
Bacana
lembrar também que o Kalèvala ficou entre os melhores hidromeis,
segundo voto popular, na nossa eleição do Melhor Hidromel
Brasileiro de 2016 – veja aqui o artigo com o resultado completo.
A experiência
Para
acompanhar a degustação das diferentes variedades do Kalèvala,
preparamos com o pessoal do Cozinha dos Tronos uma adaptação de uma
receita tradicional finlandesa, o Kalakukko, que é um pão recheado
com carne de peixe (de água doce) e porco. No caso usamos apenas
peixe e, aproveitando a proximidade do natal, adicionamos algumas
frutas, como maçã, pera e tâmaras.
Esta foi
a primeira vez que um produtor de hidromel nos apresentou quatro
variedades diferentes de seu produto! Tivemos a oportunidade de
apreciar o Kalèvala nas versões: Tradicional Seco,
Tradicional Suave, Sangue de Viking e Hidromel do
Jarl.
Começamos
pelo Tradicional Seco, que de cara é bem aromático.
Na taça
tem uma ótima apresentação: dourado e bem clarificado. Não
apresenta carbonatação ao ser servido. No paladar, ele é
sutilmente adocicado, o que nos fez pensar que seria melhor
classificado como demi-sec, mas muito gostoso de toda forma. A
graduação alcoólica é de 13%, mas pouco se sente o álcool.
A seguir,
o Tradicional Suave, que tem um aroma bem parecido com o anterior.
Ao ser
servido, também não apresenta carbonatação. É igualmente
dourado, porém mais opaco. No paladar o sabor é bem parecido com o
anterior, de modo que tivemos até um pouco de dificuldade em
diferenciá-los. A diferença, que é bem sutil, está mais no corpo
do que no sabor propriamente dito. Ambos são doces, mas o suave tem
uma textura mais aveludada, que preenche a boca de forma diferente. A
graduação alcoólica aqui também é de 13%.
Mas se
esses dois primeiros são parecidos e de difícil separação, o
próximo é um hidromel que se afirma e se destaca.
Trata-se
de um Viking Blood, aquela receita dinamarquesa antiga com
flor de hibisco que diversos produtores de hidromel gostam de
reproduzir, mas que assume personalidade própria na confecção de
cada um.
O Sangue
de Viking do Kalèvala tem um aroma que sutilmente traz o toque
da flor de hibisco, o elemento mais marcante dessa receita.
Na taça,
não é carbonatado e apresenta uma elegante coloração vermelha,
além de boa clarificação. Na boca é menos doce que os anteriores,
mas ainda assim adocicado, e a graduação alcoólica mais alta (14%)
se faz sentir um pouquinho mais, mas nada excessivo. Depois do
segundo gole, o gosto e o aroma da flor de hibisco ficam bem
presentes, dominando a experiência sensitiva.
E por
fim, partimos para o que os produtores nomearam como Hidromel do
Jarl, que consiste numa receita de hidromel "fermentado à
base de whiskey", pois contém malte entre seus ingredientes. No
aroma, percebemos algo parecido com as versões anteriores, mas menos
doce.
Na taça,
é uma bebida escura, de uma coloração quase café (mas ainda assim
bem clarificada, o que se nota pois continua translúcida) e
novamente sem carbonatação. O sabor é tão exótico quando a
receita sugere, pois além da doçura sutil, podemos sentir um
amargor que puxa lá do fundo da boca e um retrogosto interessante,
que merecem ser apreciados lentamente. Uma surpresa bem agradável e
diferente do que estamos acostumados em outros hidroméis. A
graduação alcoólica é de 13%.
As quatro
variedades do Kalèvala são muito boas, mas a que mais apreciamos
foi essa última (Hidromel do Jarl), por nos proporcionar uma
experiência diferente do que estamos acostumados. As duas primeiras
(Tradicional Seco e Suave), como dissemos anterioremente, são bem
parecidas entre si, e deverão agradar os paladares mais chegados a
hidroméis e vinhos demi-sec. O Sangue de Viking é um hidromel com
hibisco que valoriza bastante este último ingrediente, e deverá ser
apreciado por quem valoriza bebidas bem aromáticas e exóticas.
Todos caíram bem com o nosso pão recheado.
Dados técnicos
Os
produtores usam mel silvestre, obtido com um fornecedor de mel
orgânico da serra carioca. A fermentação dura pelo menos três
meses e depois disso o produto ainda passa por pelo menos mais um mês
de maturação em garrafa antes de ser comercializado.
Agraduação
alcoólica das variedades que experimentamos fica entre 13 e 14%. Os
valores por garrafa (720ml) variam entre R$ 35,00 e R$ 40,00.
Encomendas podem ser feitas pela página do Kalèvala no Facebook ou
pelo Mercado Livre – links abaixo.
Já
experimentou alguma das variedades do Kalèvala? Nos conte o que
achou!
Veja também os outros rótulos que já experimentamos nesta coluna:
Julho/2016 – Bee Gold, de Sorocaba/SP
Agosto/2016 – Velho Oeste, de Xanxerê/SC
Setembro/2016 – Alfheim, de Cachoeirinha/RS
Outubro/2016 – Ferroada, de Contagem/MG
Novembro/2016 – Hahn, de Dois Irmãos/RS
Dezembro/2016 – Triple Horn, de São Paulo/SP
Janeiro/2017 – Cervantes, de Maringá/PR
Fevereiro/2017 – OldPony, de Mogi-Guaçu/SP
Março/2017 – Corvo Caolho, de São Caetano do Sul/SP
Junho/2017 – Lord, de São Paulo/SP
Julho/2017 – Skald, do Rio de Janeiro/RJ
Agosto/2017 – Sea of Velho Mundo, do Rio de Janeiro/RJ
Setembro/2017 – Zamith, de Queluz/SP
Outubro/2017 – Gjallarhorn, de Mogi das Cruzes/SP
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