Salve,
medievalistas e apreciadores de hidromel!
Esta é a
décima quinta resenha de nossa coluna de hidroméis! Se você
acompanha o Cena Medieval, provavelmente já conhece nossa proposta
de experimentar e resenhar um hidromel brasileiro por mês, sempre
acompanhado de um prato de culinária medieval.
A partir
do ano que vem, pode ser que essa proposta mude um pouco. Mas por
enquanto, no mínimo até dezembro, vamos mantê-la como está, e o
hidromel deste mês de setembro é o Zamith, de Queluz/SP, bem na divisa com o RJ!
Olhando
pra trás, percebemos que demoramos pra experimentar um hidromel do
RJ, mas agora (de forma não planejada), já é a terceira vez
consecutiva que trazemos um hidromel deste estado. Deem uma olhada na
nossa coluna de hidroméis para conferir as resenhas do Skald
(Julho), Velho Mundo (Agosto), ambos cariocas, e confiram agora como
foi nossa experiência com o Zamith, da cidade de Queluz, que fica bem na fronteira entre Rio e São Paulo.
O Zamith
é um hidromel bem jovem, que começou a ser produzido em novembro de
2016, ou seja, há menos de um ano. O produtor conta que tudo começou
com um pedido de casamento: a noiva disse sim, e de bônus ele firmou
uma parceria com o sogro, de modo que a primeira safra saiu em
janeiro de 2017.
O local
de produção é a Área de Preservação Ambiental (APA) Serra da
Mantiqueira, no município de Queluz/RJ, e tanto o clima quanto a
água de lá são fatores determinantes nas características do
Zamith. O mel utilizado varia conforme a florada predominante no
momento. Lá eles tem presença forte de eucalíptos, mas também
coletam mel de assapeixe e ângico.
Dessa
forma, segundo o produtor, o estilo do hidromel "segue o
ritmo da natueza", e ele ainda está numa fase de se
surpreender com as variações no resultado de cada safra.
A experiência
Este mês
decidimos revisitar um dos pratos que mais nos agradaram nessa
jornada gastronômica: a clássica combinação de linguiça,
chucrute e mostarda!
Se você
acompanha a coluna, talvez se lembre que preparamos essa combinação
em novembro do ano passado para acompanhar o hidromel Hahn, de Dois
Irmãos/RS, e naquela oportunidade usamos uma linguiça de pernil de
porco. Dessa vez, pra variar, decidimos usar duas outras variedades
de enchido: a alheira portuguesa e a linguiça de sangue!
Como
mencionamos anteriormente, durante a Idade Média a produção e
consumo de enchidos foi abundante, e surgiu uma infinidade de
variações, modos de preparo e sabores, com características
peculiares de cada região.
A alheira
portuguesa é uma iguaria originária de nossa pátria mãe, que leva
em sua composição pão e alho, além da carne. Há subvariações
conforme a região de Portugal onde ela é produzida. Inclusive, no primeiro artigo de nossa série Férias Medievais em Portugal,
mencionamos a alheira como parte da refeição servida no jantar no
Castelo de Óbidos!
A
linguiça de sangue, por sua vez, é outro gênero que possui muitos
nomes e variações conforme o local onde é produzida. Em inglês,
blood sausage (que compreende o subgênero black pudding),
e em português chouriço de sangue (nem todo chouriço é de
sangue!), também chamado de morcela, que foi a variedade que
usamos.
O
chucrute, como já mencionamos também, é um elemento bem importante
da culinária medieval, especialmente nos países de cultura
germânica. Da outra vez, usamos um chucrute "jovem",
fermentado por apenas dez dias. Dessa vez, fomos bem mais hardcore:
usamos um chucrute que deixamos fermentando desde janeiro! Ou seja,
quase nove meses completos fermentando!
E pra
completar a mesa, uma peça de queijo gorngonzola (sim, ele é
medieval!) e uma boa porção de mostarda com mel.
E depois
de tanto falar da comida, vamos finalmente para o principal, que são
os hidroméis. O produtor do Zamith nos apresentou as três
variedades produzidas por ele, que são: Othinus (tradicional
suave), Freya (melomel de amora semi-seco) e Kvasir
(hidromel escuro semi-seco).
Começamos
pelo Othinus, a variedade principal da marca. O aroma é bem sutil,
ligeiramente doce.
Na taça,
ao ser servido, ele é bem translúcido e tem uma cor bem suave,
apresentando pouco da cor tipicamente amarelada dos hidromeis. Se não
soubéssemos que é um hidromel, poderíamos até pensar ser alguma
bebida destilada. A clarificação é boa e não apresenta
carbonatação.
No
paladar, o Othinus é moderadamente doce, e tem uma certa nota
cítrica, bem ao fundo, mas no geral segue um estilo de baixa
complexidade, típico dos hidroméis jovens.
A seguir,
experimentamos o Kvasir, a variedade mais exótica da marca, pois é
feita, segundo o produtor, com o mel da seiva da cana-de-açúcar. E
diferentemente das outras duas variedades, ele passa um período mais
longo maturando, para que seus sabores aflorem.
Isso é
perceptível já no aroma e principalmente na cor do Kvasir, que é
bem mais intensa. A clarificação novamente é boa e também não
apresenta carbonatação.
No
paladar, ele é forte e seco, proporcionando aquela queimação na
garganta típica das bebidas derivadas da cana. A graduação
alcoólica informada já é alta (12,5%), mas os primeiros goles dão
a impressão de ser mais forte ainda. Não é um hidromel para
corações fracos! E diríamos que provavelmente deve ser melhor
consumido num dia frio, pra dar aquela esquentada na alma.
Finalmente,
chegamos ao Freya, que é um melomel de amora semi-seco. Melomel é a
nomenclatura que damos para hidromeis que levam frutas como morango
ou amoras em sua composição (as chamadas berries, em
inglês).
O aroma
novamente bem sutil e a coloração é levemente avermelhada. No
paladar, ele é menos doce que o tradicional e evidencia sua
graduação alcoólica mais alta, com a baixa complexidade oriunda do
curto tempo de maturação e uma sutil nota de amora no final do
gole.
Enfim,
sem perceber, acabamos montando uma mesa bem eclética, com elementos
ibéricos (alheira portuguesa e morcela), germânicos (chucrute) e
italianos (gorgonzola), combinados com um hidromel que pode no mínimo
ser considerado tropical, pelos tipos de mel que são sua base,
especialmente a variedade Kvasir, feita com o mel da seiva da
cana-de-acúcar, que faz com que o hidromel guarde semelhança com um
certo destilado de produção nacional pelo qual o Brasil é famoso.
Dados técnicos
Como
dissemos anteriormente, o produtor conta que usa o mel de florada
predominante no momento da produção, ou seja, varia conforma a
époda do ano. Ele conta ainda que, com a técnica atual, o tempo de
fermentação é de no máximo um mês e meio.
A
graduação alcoólica das variedades que experimentamos é de 10%
(Othinus), 12,5% (Kvasir) e 12,5% (Freya).
Os
valores por garrafa de 500ml variam entre R$ 35,00 e R$ 60,00.
Para
saber mais, ou para adquirir uma garrafa, entre em contato pela
página deles no facebook:
Ou pelo
site da marca:
E você,
já experimentou o Zamith? Nos conte o que achou!
Veja também os outros rótulos que já experimentamos nesta coluna:
Julho/2016 – Bee Gold, de Sorocaba/SP
Agosto/2016 – Velho Oeste, de Xanxerê/SC
Setembro/2016 – Alfheim, de Cachoeirinha/RS
Outubro/2016 – Ferroada, de Contagem/MG
Novembro/2016 – Hahn, de Dois Irmãos/RS
Dezembro/2016 – Triple Horn, de São Paulo/SP
Janeiro/2017 – Cervantes, de Maringá/PR
Fevereiro/2017 – OldPony, de Mogi-Guaçu/SP
Março/2017 – Corvo Caolho, de São Caetano do Sul/SP
Junho/2017 – Lord, de São Paulo/SP
Julho/2017 – Skald, do Rio de Janeiro/RJ
Agosto/2017 – Sea of Velho Mundo, do Rio de Janeiro/RJ
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