sexta-feira, 14 de julho de 2017

Resenha do Mundo Medieval Ano II: A Polêmica dos Tronos

Salve, medievalistas!

No último sábado, 08 de julho, aconteceu a segunda edição do evento Mundo Medieval, que teve como subtítulo "A Noite da Vingança". Assim como a primeira, essa edição aconteceu no centro de eventos Monte Castelo, na cidade de Mauá/SP.


Só que dessa vez o evento ocupou não apenas um, mas todos os três castelos do complexo! Ou seja, uma proposta maior e ainda mais ousada do que a primeira, mas que manteve um elemento: a polêmica divisão de opinião entre os convidados. Entre os comentário de pessoas que amaram e de pessoas que odiaram o evento, veja o que nós do Cena Medieval achamos!

Mundo Medieval é o título do evento principal de uma série que vem sendo organizada pela "Equipe Mundo Medieval", série esta que inclui também o Decembeer Folk (que já teve uma edição) e o Carnafolk (que já teve duas), cada um com uma proposta diferente. No caso específico do Mundo Medieval, a proposta é proporcionar aos convidados a imersão na temática medieval, comum a outros eventos do meio, mas com dois grandes diferenciais: belos cenários de castelo e um enredo com personagens, para que os convidados se sintam parte de uma história.

Na primeira edição foram cerca de 700 pessoas; nessa segunda, cerca de 3 mil (informações da organização). Daí já notamos o principal mérito da organização, que é trazer gente nova para o meio medieval, fazendo um evento de proporções inéditas.


Se você não esteve na primeira edição do Mundo Medieval, veja aqui a resenha do Cena Medieval. A proposta era desde o início ousada, mas instigante, principalmente por ser o primeiro grande evento do meio a acontecer num cenário de castelo. Você vai perceber que, já naquela época, nós tecemos duras críticas ao evento, mas esperávamos que todos os erros fossem corrigidos na próxima edição.

Impossível portanto não falar de todas as coisas que deram errado e prejudicaram a experiência de quem comprou ingresso e gerou uma expectativa enorme (até por toda a publicidade que foi feita), então vamos a elas.

O que deu errado dessa vez?


Muito do que deu errado na primeira, mas em proporções (bem) maiores.

O principal, na nossa opinião: filas, filas e mais filas.

Fila gigante pra entrar no evento e conseguir estacionar (teve gente que desistiu, inclusive)
Filas descomunais pra comer, em todos os possíveis pontos de comida do evento
Filas pra beber (essas menores, mas ainda assim existentes)
Filas para as atrações, que eram poucas para um volume tão grande de pessoas


No caso do estacionamento, aparentemente o complexo Monte Castelo, incluindo suas vias públicas de acesso, não tem estrutura pra tantos carros. Ano passado foi a questão dos flanelinhas na rua cobrando valores exorbitantes, que já foi bem chata, e esse ano uma demora média (pelo que absorvemos do público) de uma hora e meia simplesmente pra conseguir estacionar e entrar no evento. Se fosse só isso e o evento em si fosse ótimo, nós (e provavelmente a maior parte do público) relevaríamos, mas as frustrações da noite não paravam por aí.



Assim como no ano passado, foi bem difícil comer. Dessa vez a comida não acabou (pelo menos), mas pra consegui-la, qualquer pessoa precisava passar por um verdadeiro teste de paciência (para os jogadores de D&D, Resistência de Vontade com Classe de Dificuldade 35).


Cheguei ao ponto de ficar bem mais de uma hora na fila do boi no rolete pra receber no prato uma quantidade bem pequena de carne. E isso foi apenas uma das filas de comida. A fila do caldo foi quase tão traumática, e a das coxas de peru eu nem tentei, porque né...

O finalzinho da fila do boi no rolete
Tava gostoso? Sem dúvida, mas talvez a minha fome tenha sido um belo tempero.


O segundo maior ponto falho, na nossa opinião, é a questão da imersão, que mais uma vez foi prometida e não foi entregue.

Como disse no começo, um dos diferenciais da proposta do Mundo Medieval é o enredo da festa. Na edição do ano passado havia o velho e cansado Rei Ellengard e a conturbada questão da escolha de um regente, mas a interação prometida com os convidados acabou não rolando.

Nesse ano, acredito que quase todo mundo tenha visto o video teaser do evento, com a rainha dos bárbaros iniciando sua invasão ao castelo. Embora a continuidade com o roteiro do ano anterior estivesse um pouco quebrada, mais uma vez estava sendo prometida uma imersão que não aconteceu durante o evento.

Alguém viu invasão? Ou qualquer cena dessa história? O máximo que eu vi foi a rainha lá sentada, interagindo pouco ou nada. Ela deu a benção dela pra alguns pedidos de casamento e isso foi muito legal, mas só.


Um pedido de casamento, com a benção da Rainha

A ideia de envolver o público com uma história, com personagens que andem pelo evento e interajam com as pessoas é uma puta sacada. Sério mesmo, eu pago um pau pra ideia, mas a execução deixou muito a desejar mais uma vez.

Também teve coisa boa


As atrações musicais incluiam nomes bem conhecidos do meio como Taberna Folk, Jornada Ancestral e Terra Celta, e todas fizeram apresentações excelentes.

Terra Celta em apresentação!
Destaque para o Terra Celta, que tem uma presença de palco impressionante e uma incrível capacidade de colocar as pessoas pra pular e dançar.

O pessoal da Turma do Gavião também marcou presença, com suas aves incríveis e cativantes, e a Equipe Cronos organizou divertidos jogos medievais que animaram a galera numa das áreas externas.

E em outra das áreas externas no evento foi montado um acampamento viking, composto por três grupos de recriacionismo viking brasileiros: o Hednir, o Myrrøx e o Old Norse. Na mesma área estava o pessoal do grupo Dom Ricardo Ramos, que preparou um excelente churrasco gaúcho (que, pra variar, formou uma fila gigante). Foi uma sacada boa colocar os grupos vikings reunidos ali na área externa em volta de uma grande fogueira, e pra mim foi a área mais agradável do evento.



E o público nisso tudo?


Fiz questão de conversar com diversas pessoas durante o evento. A cada fila que eu entrava, entrevistava a pessoa da frente e a de trás (ou seja, tive tempo e oportunidade pra falar com bastante gente, haha). E preciso ser sincero: ouvi pessoas dizendo que estavam se divertindo muito, talvez na mesma medida das pessoas que estavam reclamando.


O comentário de uma moça em especial me chamou atenção: ela é de uma cidade do interior de MG e veio a SP para o evento, e estava achando maravilhoso. Por que? Na cidade dela não tem nada disso, as pessoas não curtem esse tipo de coisa e ela se sente excluída.

Achei emblemático. É um caso talvez extremo, mas representa a situação de uma série de outras pessoas que por algum motivo ainda não estão inseridas no nicho.

Pensando no meu eu de 10 anos atrás, se fosse num evento desses, ía achar legal pra caramba, mesmo com as filas, simplesmente por estar num ambiente de castelo com tanta gente que curte a mesma coisa e caracterizada. Mas o eu de hoje, que frequenta eventos medievais muito mais bem organizados, tem uma expectativa bem maior.


Enfim...


Tomo a liberdade de replicar um parágrafo da minha resenha do Mundo Medieval no ano passado, que continua bem válido:

(...) a decepção de uma parte dos convidados é mais do que compreensível. Aliás, a decepção nada mais é do que a diferença entre expectativa e realidade. Há outros eventos no meio que cometem falhas até maiores, mas que não geram tanta repercussão porque a expectativa em relação a eles não é tão alta. No caso do Mundo Medieval, a expectativa de todos era enorme, principalmente por toda a publicidade que foi feita, de forma que as falhas também assumiram proporções maiores.”

Ou como a minha vó dizia: quanto maior a altura, maior o tombo.

Opinião é um negócio complicado e cada um tem a sua. Pra mim, filas nesse volume simplesmente não são admissíveis pra quem pagou tão caro num ingresso (no meu caso, paguei R$ 140,00, mas teve gente que pagou mais barato nos primeiros lotes).

O evento tem algumas ideias muito bem sacadas, mas falta uma execução mais bem planejada.

Eu realmente, realmente espero que a equipe não desista e continue tentando. Insisto em dizer que eles têm no mínimo um grande mérito, que é apresentar o meio medieval a um público novo e diferente, permitindo uma necessária oxigenação no pessoal. E acredito que foi justamente essa galera nova que conseguiu se divertir mais na festa.

Seja você um dos que amou ou um dos que se decepcionou, deixe aqui nos comentários a sua impressão sobre o evento!


Veja também aqui no Cena Medieval:




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