Salve,
medievalistas e apreciadores de hidromel!
Metade do
ano já passou e continua firme e forte a nossa missão de
experimentar um hidromel brasileiro por mês aqui na coluna.
O
hidromel de julho, décimo terceiro desde que começamos essa
história, é o Skald, do Rio de Janeiro/RJ!
Antes que
vocês comecem a se perguntar, não, esse hidromel não é produzido
por mim e nem tem nada a ver comigo, hehehe... Os Skalds eram
originalmente os poetas e contadores de histórias na antiga cultura
escandinava, sendo essa tanto a minha inspiração para o título que
adotei no meio medieval, quanto a do produtor deste hidromel para
nomear sua bebida.
Além
disso, na mitologia nórdica havia o famoso Hidromel da Poesia, que
daria a quem o bebesse o dom da poesia, o que por sua vez é uma
grande metáfora para a inspiração poética. O dom da poesia é
frequentemente associado ao deus Odin, que na tradição nórdica
cobiçou e furtou o hidromel mágico produzido por dois anões ao
misturar o sangue de um ser muito sábio chamado Kvasir com mel (eu
explico um pouco melhor no meu artigo sobre a história do hidromel –
veja aqui!).
Então o
nome Skald é uma referência tanto aos famosos contadores de
história quanto ao mítico Hidromel da Poesia, além de um convite
do produtor para "se inspirar e ouvir boas músicas, poesias
e histórias enquanto bebe uma garrafa de Hidromel".
O
produtor conta que começou em 2015. Participando ativamente de
eventos medievais ele conheceu o hidromel, mas não encontrava
receitas que realmente agradassem seu paladar, principalmente por
serem quase todas muito doces. Ele então começou a produzir para
consumo próprio, buscando fazer receitas secas, onde todo o doce do
mel fosse fermentado e convertido em álcool.
Atualmente,
para exibir melhor as características do mel, ele começou a
produzir versões semi secas, o que tem agradado a todos, pois
encontrou o equilíbrio entre o doce do mel e o álcool.
A
produção acontece no Rio de Janeiro e, como vocês podem imaginar,
é necessário controlar a temperatura da fermentação de algumas
receitas, especialmente no verão, para que as altas temperaturas não
prejudiquem o processo de fermentação.
E para experimentar o Skald, fizemos uma nova participação no canal Cozinha dos Tronos!
A Experiência
Como os
leitores devem estar acostumados, sempre preparamos um prato de
culinária medieval para acompanhar o hidromel do mês. Ao longo dos
últimos doze meses foram doze pratos diferentes. Muitas pessoas nos
pedem as receitas que usamos, então decidimos aproveitar essa nova
oportunidade com o Cozinha dos Tronos para ensinar pra vocês como
fazer o primeiro prato da coluna, com o qual começamos tudo lá
atrás: o apple bacon!
Como
explicamos lá naquele primeiro artigo (no qual falamos do hidromel
Bee Gold – veja aqui), o apple bacon é considerado uma receita
viking, ou seja, mais um motivo para combiná-lo com o hidromel
Skald, que já no nome faz uma referência aos vikings e à cultura
escandinava.
Isto
porque é uma típica receita dinamarquesa existente no mínimo desde
a metade do século XVIII, então é razoável presumir que ela possa
já ter sido consumida desde muito antes naquela região, talvez
durante a Era Viking, que termina no século XI.
É uma
receita calórica e pesada, perfeita para um dia frio, por isso
escolhemos fazê-la agora em julho. E com efeito, na Dinamarca hoje
em dia o pessoal gosta de fazer em dezembro, na época do Yule. Por
lá o nome é Æbleflæsk, que significa literalmente carne de porco
com maçãs.
Indo
agora para o ponto principal de nossa experiência, o produtor do
Skald nos apresentou duas das variedades produzidas por ele: o Skald
Hibiscus e o Skald Tropical.
Começamos
com o Skald Tropical, feito com mel de laranjeiras, gengibre e raspas
de limão. Ou seja, exótico tanto no nome quanto na produção. O
produtor conta que é uma receita experimental. A adição dessas
especiarias o classifica como um metheglin, que é uma das várias
categorias possíveis de hidromel.
O aroma
que percebemos ao abrirmos a garrafa é diferente, e talvez não
conseguíssemos identificar os ingredientes se já não soubéssemos,
mas certamente é um aroma bem agradável que aguça a vontade de
beber.
Na taça
o Skald Tropical é translúcido e de uma cor amarelada, demonstrando
uma clarificação bem competente. Ótima apresentação.
Mas no
paladar é que vem a maior surpresa: ele combina uma doçura sutil
com um toque levemente cítrico, o que faz dele uma bebida leve e
refrescante. Se foi gostoso assim em tempetatura ambiente num dia
moderadamente frio de inverno, no verão esse hidromel levemente
refrigerado seria sensacional. Embora o produtor o apresente como uma
receita experimental, consideramos que está mais do que aprovada.
A
graduação alcoólica do Skald Tropical é de 13%, mas o álcool é
pouco perceptível em meio às outras características mencionadas.
A seguir
partimos para o Skald Hibiscus, que por outro lado segue uma receita
já bem conhecida pro nós e pelos apreciadores de hidromel de longa
data. Como já mencionamos em posts anteriores nesta coluna, o hábito
de adicionar flor de hibisco na receita do hidromel é bem difundido
na europa, e supostamente segue uma receita dinamarquesa de mais de
trezentos anos. Isto associado à coloração avermelhada que é
conferida pelo hibisco levou à convenção de se chamar essa receita
de viking blood, ou sangue viking, e essa mistura é
reproduzida por vários produtores de hidromel também no Brasil.
Tecnicamente,
todo viking blood entra na categoria dos metheglins, apenas pela
adição da flor de hibisco. No caso do Skald Hibiscus, a receita contem ainda outras especiarias: cravo, noz moscada e canela.
Na taça
ele é translúcido e levemente avermelhado, novamente uma ótima
apresentação.
No
paladar ele também apresenta uma doçura moderada aliada ao gosto
característico da flor de hibisco, combinados sutilmente com as
demais especiarias da receita. É macio e bem equilibrado,
provavelmente a melhor versão que já provamos dessa receita de
hidromel com flor de hibisco. A graduação alcoólica é de 14%, e
novamente quase imperceptível.
Este
Skald Hibuscus recebeu a terceira melhor nota na Taça Paulista de
Hidromel 2017, na qual concorreu com mais de 30 hidroméis de todo o
Brasil. Mais uma vez, um belo acerto do produtor, que mereceu sua boa
colocação na Taça.
Dá pra
perceber que o hidromel Skald em suas receitas atuais é fruto de um
bom tempo de experimentação para atingir este ótimo ponto. Ambas
as variedades que experimentamos são metheglins complexos e bem
equilibrados. A combinação da leve doçura de ambos foi excelente
com o apple bacon, um prato que por si já apresenta a doçura da
maçã aliada ao salgado da carne de porco defumada.
Dados técnicos
O
produtor conta que a maioria das receitas do Hidromel Skald combina
mel de laranjeira e silvestre para extrair o melhor de cada um deles.
Atualmente estão criando novas receitas utilizando mel de eucalípto.
A bebida é engarrafada após um período que varia entre 3 e 6 meses
de fermentação, clarificação e maturação, podendo maturar ainda
mais na garrafa já fechada.
As
leveduras utilizadas são enólogas, algumas importadas do Canadá e
outras da Bélgica.
O
produtor conta ainda que busca sempre evoluir as receitas existentes
e criar novas, sendo que suas receitas principais atualmente são o
Hibiscos, o Tropical (os dois que experimentamos hoje) e o Skald
Medieval, um bochet tradicional inspirado em uma receita francesa do
séc. XIV, que certamente experimentaremos no futuro.
A
graduação alcoólica das variedades que experimentamos é de 13%
(Tropical) e 14% (Hibiscus).
O valor
de venda de qualquer versão do Skald é R$ 45,00 (garrafa de 750ml).
Eles ainda não enviam por correio, mas você pode curtir a página
deles no facebook para saber quais os eventos em que estarão
presentes e onde encontrá-los no Rio de Janeiro:
E você,
já experimentou o Hidromel Skald? Nos conte o que achou!
Quer aprender a fazer o apple bacon? Assista ao episódio dessa semana do Cozinha dos Tronos:
Veja também os outros rótulos que já experimentamos nesta coluna:
Julho/2016 – Bee Gold, de Sorocaba/SP
Agosto/2016 – Velho Oeste, de Xanxerê/SC
Setembro/2016 – Alfheim, de Cachoeirinha/RS
Outubro/2016 – Ferroada, de Contagem/MG
Novembro/2016 – Hahn, de Dois Irmãos/RS
Dezembro/2016 – Triple Horn, de São Paulo/SP
Janeiro/2017 – Cervantes, de Maringá/PR
Fevereiro/2017 – OldPony, de Mogi-Guaçu/SP
Março/2017 – Corvo Caolho, de São Caetano do Sul/SP
Junho/2017 – Lord, de São Paulo/SP
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