segunda-feira, 17 de julho de 2017

Game of Thrones: S07E01, Dragonstone – O começo do fim

Salve, medievalistas de gelo e fogo!

Há muito tempo que eu queria começar a falar aqui no blog também sobre livros, séries e filmes de temática medieval, afinal são boa parte da inspiração dos medievalistas.


Não vi melhor jeito de começar, portanto, do que com a estreia da sétima temporada de Game of Thrones, que é a série responsável por deixar o medievalismo na moda para o grande público nos últimos anos.

Essa resenha será postada também no Justiça Geek!

Vamos então à análise do primeiro episódio dessa sétima temporada.

A regra é a simplificação do roteiro. Os produtores antes ficavam divididos entre a grande complexidade da história original dos livros e uma abordagem mais simplificada, mas ainda assim eram personagens demais e histórias paralelas demais para o grande público, de modo que cada vez mais, ao longo das temporadas, o roteiro foi ficando objetivo, linear e fácil de acompanhar.


Para um leitor e amante dos livros, como eu, isso foi uma pequena frustração a princípio, mas hoje vejo livros e série como duas coisas completamente separadas, ligadas por uma origem em comum, mas que seguiram camnhos diferentes, para serem apreciados de formas diferentes (inclusive, torço para que o final da história seja diferente em cada mídia, configurando universos paralelos).


O primeiro episódio dessa sétima temporada seguiu essa linha de simplificação. Não há grandes teorias para serem elaboradas sobre os pontos apresentados por ele. Trata-se de uma reintrodução de personagens, alguns dos quais tiveram uma considerável evolução, e nisso o episódio soube apresentar algumas belas sutilezas narrativas.

Vamos por partes:

A cena final, embora dê nome ao episódio e seja o que esperamos por anos, acaba sendo também bem simples. Mas não deixa de ser grandiosa, gloriosa, épica e empolgante. Essa cena representa o começo do fim da história, pois Daenerys finalmente chegou em Westeros, algo para o que a sua vida inteira a preparou, e está prestes a começar sua campanha de conquista, partindo de Pedra do Dragão, o mesmo ponto de partida de seus ancestrais conquistadores.




A primeira parte de Sam na Hogwarts de West... quer dizer, na Cidadela, foi sensacional. Aquele jogo de câmeras (se você viu, sabe do que eu tô falando) foi talvez um dos mais bem sacados da série (que vai nos fazer ficar sem comer sopa por algum tempo), e a conversa dele com o arquimeistre também foi bem interessante. A segunda parte, contudo, apontou mais uma vez para uma solução bem objetiva para um dos maiores conflitos da série: um monte de vidro de dragão (obsidiana) em Pedra do Dragão.




A cena de Cersei e Jaime talvez tenha dado uma dica sobre como ela morrerá na série: estrangulada pelo próprio irmão. Reparem que quando os dois estão sobre o mapa de Westeros, ela está sobre a região do Gargalo (adaptação do inglês Neck, que signifca pescoço) e ele aparece sobre a região dos Dedos. Essas posições em si poderiam não significar nada, mas vão de encontro a uma das teorias mais discutidas pelos fãs a partir de informações dos livros (pesquisem sobre a profecia de Maggy a Rã). Além disso, os produtores da série já mostraram em diversas oportunidades como gostam de brincar com semiótica, então eu não me surpreenderei se essa questão do mapa realmente tiver sido uma dica.


Jon e Sansa tiveram seu primeiro pequeno conflito, que já havia sido sugerido desde o final da temporada anterior, e provavelmente ainda vamos vê-los brigando um pouco mais, sob a influência de Mindinho.




Finalmente, as partes mais interessantes do episódio, aquelas belas sutilezas narrativas que comentei no começo, estão nas cenas de Arya e de Sandor, o Cão de Caça.

Enquanto envenena algumas dezenas de Freys, Arya, usando a pele e a voz de Lorde Waler Frey, fala sobre o Casamento Vermelho, no qual seu irmão Robb e sua mãe Catelyn morreram (entre muitos outros), e parece visivelmente feliz e satisfeita com a vingança. Mas isso foi realmente justiça?


As principais mentes que arquitetaram o Casamento Vermelho – Walder Frey, Tywin Lannister, Roose Bolton, Lothar Frey e Black Walder – já estão todas mortas. Será que todos esses Freys que Arya envenenou nessa cena eram realmente culpados? Os livros promovem uma discussão similar com a personagem Senhora Coração de Pedra (Catelyn ressucitada) que mata todos os Freys que encontra, mas não fica muito claro se todas as pessoas que ela mata são realmente culpadas (essa Catelyn vingativa dos livros inclusive tenta enforcar Brienne e Pod, e infelizmente não saberemos o que aconteceu até que o próximo livro seja publicado).

Enfim, as cenas nos livros da Senhora Coração de Pedra nos fazem questionar se a vingança violenta é correta, e de forma similar na série somos levados a questionar a vingança de Arya quando ela encontra um grupo de soldados Lannister (incluindo o personagem multiclasse Ed Sheeran, guerreiro/bardo hahaha).


Esses soldados Lannister dividem com ela a pouca comida que têm. Eles mostram que têm sonhos, famílias esperando por eles e humanidade. Provavelmente fizeram coisas ruins, mas as circunstâncias em que Arya os encontra a ensinam que eles também são pessoas que merecem viver, e talvez o mesmo fosse verdade em relação a alguns dos Freys que ela envenenou na cena anterior.


O caminho de Arya, com todo o sofrimento pelo qual passou, a transformou numa assassina fria e vingativa, o que a coloca em direta contraposição com Sandor, um personagem com o qual ela tem uma profunda relação.

Sandor de certa forma está fazendo o caminho oposto de Arya. Ele nos foi apresentado no começo da história como um assassino frio e mercenário, mas desde que foi derrotado por Brienne e se separou de Arya, começou uma caminhada de redenção. Na última temporada, nós o vimos numa breve relação bucólica com uma comunidade de camponeses, mas ele foi levado novamente ao caminho do ódio quando esses inocentes foram chacinados por soldados.

Nesse primeiro episódio da nova temporada, Sandor reencontra outros inocentes, mas a morte destes foi indiretamente causada por ele próprio. Na quarta temporada, enquanto viajava com Arya, o Cão de Caça roubou um velho fazendeiro e sua pequena filha, deixando-os para morrer quando o inverno chegasse. Por ironia do destino ou capricho dos deuses, ele agora volta à mesma fazenda com a Irmandade sem Estandartes e encontra os cadáveres. Mesmo aparentemente arrependido, tudo que ele pode fazer agora é enterrar os dois corpos.





Sandor desenvolveu alguma humanidade e respeito pela vida, e provavelmente estará entre os heróis dos conflitos que estão por vir. Arya evoluiu no sentido oposto, desenvolvendo habilidades mortíferas e alimentando seus desejos de vingança. Será interessante ver o reencontro desses dois personagens, se ele chegar a acontecer. E a contraposição das cenas dos dois foi para mim a parte mais interessante do roteiro desse episódio.

O título do segundo episódio será Stormborn, ou seja, Nascida da Tormenta, um dos muitos títulos de Daenerys, indicando que o ep. será mais focado nela. Depois de assistirem, passem por aqui para conferir a resenha do Cena Medieval! ;)


Teve uma impressão diferente desse primeiro ep.? Deixe sua opinião aqui nos comentários!

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