Salve,
medievalistas e apreciadores de hidromel!
A edição
de julho do Boletim da APH-SP (Associação dos Produtores de
Hidromel de SP) contou com uma entrevista que eles fizeram comigo
como autor do Cena Medieval. Falamos sobre hidromel e um pouco sobre
o meio medieval no Brasil.
Com a
permissão deles, estou publicando o texto da entrevista aqui também
– confiram!
A APH-SP
é uma entidade existente desde o meio de 2016, criada com o objetivo
principal de agregar produtores, revendedores e amantes de hidromel,
além de promover e difundir a cultura hidromeleira.
O
Boletim, por sua vez, é uma publicação mensal gratuita produzida
pelos membros da associação e distribuída digitalmente pela página
deles no facebook.
Trecho da primeira página do Boletim deste mês |
Como o
Cena Medieval acabou se tornando uma das referências da divulgação
do hidromel no Brasil, eles me procuraram a mim, o Skald, para fazer
uma entrevista, que foi publicada na edição deste mês do Boletim.
Veja o texto completo:
_______________________________________________
Entrevista
O BAPH
entrevista o Rafael “O Skald”, o nosso arauto de Odin e Bardo de
tempos d'antanho, que nos falará de um dos canais mais importantes
da cena hidromeleira que é o Cena Medieval, seu blog
recriacionista, que é muito popular entre os amantes da antiga
bebida.
(BAPH):
Skald, muito obrigado por nos conceder esta entrevista.
(Skald):
Eu é que agradeço pela oportunidade! O hidromel é um tema sobre o
qual eu gosto bastante de falar, então é um prazer conversar com
vocês, que são produtores e entendedores do assunto.
(BAPH):
Os grupos medievalistas sempre existiram em alguns países da Europa
e nos E.U.A., mas no Brasil são relativamente recentes (ou estou
redondamente enganado?). A que, na sua opinião, se deve esse
repentino e vigoroso surgimento em terras brasileiras?
(Skald):
Você está certo, é uma coisa recente. O meio medievalista, da
forma como vejo, é uma derivação do meio nerd. No começo, há uns
quinze anos ou pouco mais, o crescente público nerd tinha poucas
opções de lugares pra se reunir. Os primeiros espaços de união
desse público foram os eventos de anime e os encontros de RPG. Aos
poucos os nichos foram se especializando, e um desses nichos foi o
dos medievalistas que, conforme cresceram em número, começaram a
ter seus próprios eventos, ao ponto de hoje nós termos algo que
pode ser chamado de um meio medieval, ou cena medieval (que foi de
onde eu tirei o nome para o blog). Ainda é um meio relativamente
pequeno, mas crescendo, e continua conectado com o universo maior,
que é a cultura nerd ou cultura pop.
(BAPH):
O movimento revivalista, se assim posso chamá-lo, se extende por
todo o país ou é mais concentrado em determinadas regiões? Existe
alguma tendência clara de evolução?
(Skald):
Não constumamos chamar de revivalismo, pois não procuramos resgatar
tradições medievais ou coisa do tipo. Uma outra palavra que você
pode ouvir por aí é recriacionismo (tradução do inglês
reenactment), que se refere à galera que estuda e recria para fins
de entretenimento algum determinado período histórico. Um dos tipos
mais comuns de recriacionismo na Europa e no Brasil é o
recriacionismo da Era Viking. E fora os recriacionistas, a maior
parte do público do meio medieval é composta de entusiastas da
temática medieval de forma genérica, muitas vezes mais ligados à
fantasia medieval (como Game of Thrones e O Senhor dos Aneis) do que
à história medieval propriamente dita.
O
movimento é mais concentrado no Sudeste e no Sul do país. Tenho
ficado sabendo de um ou outro evento surgindo no Nordeste, mas ainda
de forma tímida. Difícil falar em evolução, até porque a Idade
Media não faz parte da história do Brasil, mas eu acredito que
ainda tem algum espaço pra crescer, e acredito que vai sempre
continuar sendo um braço da cultura nerd.
(BAPH):
Certo, entendi. O apoio e a divulgação que o Cena
Medieval dá ao hidromel e em especial ao produto Brasileiro,
torna seu blog uma referência quando pensamos em análise de
mercado. Isto porquê atinge aquele nicho de consumidores que estão
familiarizados com a bebida. Você acredita que o hidromel possa
deixar de ser visto como uma particularidade e acabe ocupando um
espaço maior no mercado? Digo outros públicos que não os
aficcionados.
(Skald):
Outra pergunta difícil, rs. Eu acredito que o hidromel tem potencial
pra ser uma bebida bastante apreciada, mas falta tempo.
O público
dos bons vinhos pode muito bem vir a ser o próximo público do
hidromel, já que um bom hidromel, complexo e bem produzido, pode ser
apreciado nas mesmas situações que um bom vinho, seja harmonizando
com uma refeição sotisticada ou sendo consumido isoladamente,
aproveitando os aromas e sabores sutis de cada gole.
Mas ainda
falta bastante divulgação para que o hidromel deixe de ser um
produto de nicho e possa ganhar mercado. A maioria das pessoas sequer
sabe do que se trata, e antes de experimentar tem até certa
estranheza. Os aficcionados, como você os chamou, foram um bom
primeiro passo, que permitiu e justificou o surgimento de diversos
produtores artesanais. Agora, para que o hidromel comece a ser
produzido numa escala maior, me parece necessário que ele saia desse
círculo e passe a ser conhecido por uma variedade maior de públicos.
(BAPH):
Você acredita que haja espaço no mercado para outros produtos
medievais como o hipocras, o claret, moretum ou
a cervísia e tantas outras mais por exemplo? Existe a demanda por
estes produtos por parte da comunidade do Cena Medieval?
(Skald):
Quando você fala em “mercado”, eu penso em “lucro”. Existe
interesse por parte de quem curte medievalismo? Certamente. Mas
existe uma demanda de consumo? Muito difícil dizer...
Eu
acredito que o interesse dos medievalistas pelo hidromel veio do fato
de ser uma das bebidas dos vikings (importante inclusive na mitologia
nórdica) e por aparecer em obras de ficção e fantasia medieval
(lembra da cultura nerd, que mencionei acima?). Paralelamente, a moda
do homebrew estava crescendo, e diversos produtores relatam
que começaram com a produção caseira de cerveja, mas partiram para
o hidromel ao procurarem algo diferente. Juntando essas duas coisas,
voilà: o hidromel se tornou um produto de nicho para os
medievalistas e um elemento obrigatório nos eventos de temática
medieval.
Existe
interesse do público por outros produtos como esses que você
mencionou? Talvez. Eu já fiz hiprocras em casa com vinho comprado no
mercado e adorei. O moretum, que você mencionou agora, eu não fazia
ideia do que era, mas fiz uma rápida pesquisa e já me interessei.
São produtos bem específicos, mas mesmo que a demanda ainda não
exista, uma vez que a oferta passe a existir, eles possam no mínimo
vir a ser produtos desse nicho medievalista, como o hidromel é hoje.
(BAPH):
Bom demais! Os antigos sabiam se cuidar rsrs. Quais são os planos
para o futuro do Cena e da comunidade que ele representa?
(Skald):
O Cena Medieval nasceu de duas coisas: o meu amor pela escrita e a
minha indignação com o fato de que o medievalismo, assim como
outras nerdices, sempre foi tratado na grande mídia como uma
esquisitice. Então eu decidi criar um canal para falar “seriamente”
sobre o tema, apresentando o meio medieval para quem é novo no
assunto e ao mesmo tempo funcionando como um local para centralizar
informações pra quem já é do meio.
Para o
futuro, eu pretendo continuar fazendo exatamente isso, enquanto houve
gente interessada em ler o que eu escrevo rs. O site é um hobby que
me dá um retorno mínimo, e por isso não posso dedicar tanto tempo
a ele quanto gostaria, mas continuo na atividade. Eu gostaria de
falar sobre todos os aspectos do medievalismo, mas cada texto demanda
uma dose considerável de pesquisa, e acabo não tendo tempo.
Recentemente começaram a aparecer outras pessoas interessadas em
escrever para o site e isso é ótimo. Quem sabe no futuro não seja
um site onde os mais entendidos de cada segmento escrevem, como uma
revista especializada?
Sobre a
comunidade medievalista, só posso esperar que continue crescendo, e
que continuem surgindo novos eventos e oportunidades pra essa galera
se reunir.
(BAPH):
Certamente o fará e o Cena há
de crescer! Agora do ponto de vista pessoal, qual seu estilo
predileto de hidormel? Lembra de algum hidromel que tenha te marcado?
(Skald):
Pessoalmente, gosto bastante de hidroméis que lembrem bem o aroma e
o sabor do mel, se possível com algum açúcar residual, ou seja,
gosto que a bebida seja moderadamente doce, sem chegar a ser
enjoativa. O que mais me marcou recentemente foi a versão suave do
Philip Mead, o hidromel de abril na coluna de hidroméis
do Cena, e que foi uma agradável surpresa. Era encorpado e complexo,
mas ao mesmo tempo moderadamente doce, lembrando bastante o aroma e
sabor originais do mel.
(BAPH):
Certamente uma boa dica, eu
gostei muito dos que provei dele também! Assim nos despedimos e
muito obrigado pela sua entrevista! Espero te reencontrar nestas
páginas.
(Skald):
Novamente, eu é que agradeço!
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Se você
é um apreciador ou produtor de hidromel, curta e acompanhe a página
do Boletim da APHSP no facebook, onde o PDF de todas as edições
pode ser baixado gratuitamente:
O Boletim
apresenta diversas matérias e discussões interessantíssimas sobre
tecnicas de produção e outros temas relacionados ao hidromel.
Aproveitem!
Confira também a página da associação:
https://aphsp.wordpress.com/
Confira também a página da associação:
https://aphsp.wordpress.com/
Veja também aqui no Cena Medieval:
OHidromel, nosso artigo contando um pouco sobre a história da bebida
e sua importância no meio medieval brasileiro
Osmelhores hidroméis de 2016, segundo os leitores e a redação do
Cena Medieval
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