Salve, medievalistas e apreciadores de hidromel!
Nossa coluna de hidroméis começou em julho de 2016 desde então teve uma
repercussão bem bacana. Firmamos a proposta de experimentar e falar de um
hidromel brasileiro por mês, sempre acompanhando de um prato de culinária
medieval, de modo que abordamos nesse ano que passou meia dúzia de rótulos
nacionais.
Para 2017, nosso plano é continuar com essa proposta, de modo que ao
final do ano teremos experimentado mais doze novos rótulos de produção
nacional. E pra começar essa nova lista, experimentamos o Cervantes, de
Maringá/PR!
Ainda não conhece a nossa coluna de hidroméis? Veja aqui a lista com
todos rótulos que já provamos dessa ótima produção nacional!
O Cervantes começou a ser produzido em 2008. A ideia do produtor era
fazer cerveja, mas entre uma pesquisa e outra sobre bebidas fermentadas, surgiu
a ideia do hidromel e ele decidiu experimentar. Ele conta ainda que essa
primeira experiência foi de apenas algumas garrafas, pra ver se saía alguma
coisa, e hoje faz lotes de 100 litros, ou seja, um salto considerável.
Uma das características que mais vale comentários em relação ao
Cervantes é que, diferentemente da maioria dos hidromeleiros, ele não utiliza
leveduras industrializadas, mas sim leveduras selvagens, ou seja, culturas que
não foram selecionadas em laboratório (embora ele brinque dizendo que, após
tanto tempo, essas leveduras selvagens que ele utiliza já estão “domesticadas”).
Ele conta ainda que antes da ideia do hidromel surgir, ele já fazia
licores e vinhos de frutas como jabuticaba, laranja e abacaxi, então acabou
aproveitando a levedura selvagem dessas frutas e a utiliza até hoje na produção
do hidromel.
Já o nome é uma homenagem direta ao grande escritor Miguel de Cervantes,
cuja obra mais famosa é Dom Quixote. Uma vez que Cervantes dá um passo da Idade
Média em direção aos tempos modernos, a ideia do produtor é sair um pouco do
estereótipo viking (que, com efeito, é muito explorado entre os produtores de
hidromel).
O Cervantes é produzido em duas variedades. Ambas são classificadas pelo
produtor como suaves, mas uma é envelhecida em sassafrás e a outra em amburana,
dois tipos de madeira que, como veremos adiante, influenciam bastante no sabor
da bebida.
A experiência
Para acompanhar o Cervantes, preparamos uma receita que já estava em
nossas mentes há bastante tempo (mais precisamente desde julho do ano passado):
Tart
de Bry, ou torta de queijo, uma receita inglesa do século XIV.
Experimentamos essa maravilha pela primeira vez no Banquete Medieval
Schola Militum (veja aqui a resenha do evento!) e finalmente tomamos coragem
para reproduzi-la. E aqui deixamos um agradecimento especial ao Tarcísio
Lakatos, o cabeça do Schola e grande cozinheiro do banquete, que gentilmente compartilhou
a receita e nos deu algumas dicas!
Como comentamos na resenha supra citada, a torta era um conceito muito
apreciado pelos medievais, pois é uma comida que tem tudo dentro de uma casca,
facilitando a condimentação e o consumo (pode ser comida com as mãos).
Preparamos também Fruays, um pudim
de maçã e pão, que é também uma receia inglesa, mas do século XV.
E para completar a composição, colocamos na mesa também uma porção de
nozes inglesas, que harmonizaram muito bem tanto com a torta quanto com os
hidroméis.
Começamos com a versão envelhecida em sassafrás (ponta preta). A garrafa
estava bem carbonatada, formando uma boa quantidade de espuma, mas o produtor
nos informou que isto foi uma particularidade desta safra, que foi feita no
inverno, deixando as leveduras latentes (o que provavelmente causou numa
refermentação depois que a garrafa já estava arrolhada).
O aroma já chama bastante atenção, e a impressão é confirmada quando
sentimos o sabor, que é bem forte, devido tanto ao envelhecimento em madeiras
características quanto à alta graduação alcoólica (14,5%).
A seguir, servimos a versão envelhecida em amburana (ponta dourada), que
não apresentou carbonatação, pois segundo o produtor a garrafa veio de uma
safra já bem mais madura. Os outros comentários, contudo, se aplicam da mesma forma:
o aroma e o sabor são bem fortes.
Ambas apresentam cor dourada e boa clarificação, além de uma doçura bem pronunciada, a despeito da elevada graduação alcoólica.
As características amadeiradas se fazem muito presentes nas duas
variações, sendo certamente o hidromel mais amadeirado que já experimentamos.
Provando estes hidroméis, percebemos o quanto a madeira dos recipientes de
maturação pode influenciar no aroma e no sabor do produto final. Embora sejam
ambas doces e alcoolicamente fortes (tendo exatamente a mesma graduação), elas
são muito diferentes entre si. É muito difícil descrever essa diferença, de
modo que recomendamos a cada apreciador experimentar ambas para perceber as
peculiaridades.
A harmonização com a torta de queijo e as nozes foi realmente excelente –
fica aqui a recomendação para quem adquirir uma garrafa do Cervantes!
Dados Técnicos
O Cervantes é produzido com mel silvestre de produção regional (ou seja,
mel proveniente de diversas flores, e não de uma específica). A fermentação
dura quatro meses e a maturação varia entre 8 e 12 meses.
A levedura utilizada, como mencionamos acima, é uma levedura selvagem,
ou seja, uma levedura que não foi selecionada/industrializada em laboratório.
A graduação alcoólica é de 14,5% para as duas versões que provamos.
O valor da garrafa padrão (750ml) é de R$ 40,00, mas o produtor também
disponibiliza garrafas menores (270ml) por 20,00.
Página do Cervantes no facebook:
E você, já experimentou o Cervantes? Deixe sua opinião nos comentários!
Veja também os outros rótulos que
já experimentamos nesta coluna:
Julho/2016 – Bee Gold, de Sorocaba/SP
Agosto/2016 – Velho Oeste, de Xanxerê/SC
Setembro/2016 – Alfheim, de Cachoeirinha/RS
Outubro/2016 – Ferroada, de Contagem/MG
Novembro/2016 – Hahn, de Dois Irmãos/RS
Dezembro/2016 – Triple Horn, de São Paulo/SP
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