sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Novembro/2016 - Hidromel Hahn

Hail, medievalistas e apreciadores de hidromel!


Chegamos ao penúltimo artigo do ano em nossa coluna de hidroméis, na qual procuramos experimentar e falar de um hidromel brasileiro por mês. E o hidromel deste mês de Novembro é o Hahn, produzido em Dois Irmãos/RS, que na verdade não é um hidromel puro, mas sim um Braggot!

Trata-se do segundo hidromel gaúcho do qual tratamos aqui na coluna (o primeiro foi o Alfheim, em Setembro). E o nome do hidromel é o sobrenome do produtor, Ricardo Hahn, que já tendo desde 2009 experiência na produção de hidromel puro, decidiu em 2015 partir para a produção do braggot, que representava a mistura de duas paixões, o hidromel e a cerveja.


Ainda não conhece o hidromel? Veja aqui nosso artigo com um pouco da história e curiosidades dessa fantástica bebida fermentada. No final desse artigo, havíamos mencionado alguns nomes que permeiam a tipologia dos hidroméis, tais como melomel, cyzer e metheglin – e para você que está começando a conhecer a bebida agora, o braggot é mais uma variação que vale a pena conhecer.

A experiência


Para acompanhar o Hahn, decidimos fazer este mês uma receita mais rústica e forte, e a combinação não poderia ter sido melhor: linguiça, chucrute e molho de mostarda. Os três elementos dessa nossa refeição têm suas origens bem antes da Idade Média, mas eram certamente muito populares na Europa durante o período medieval.


A linguiça é uma das formas mais antigas de processamento de carne. Embora sua origem remonte à antiguidade clássica, foi durante a Idade Média que a produção se tornou abundante. Há uma infinidade de qualidades de linguiça, que variam conforme o método de preparo e recebem nomes de acordo com a região de onde são provenientes (calabresa, por exemplo), mas essencialmente a linguiça é um enchido de carne, feito para durar longos períodos antes do consumo. No nosso caso, usamos uma linguiça de pernil de porco.

O chucrute segue uma lógica parecida, pois é uma conserva de repolho fermentado que pode durar longos períodos. Embora seja muito associado com a cultura germânica (a palavra chucrute vem do alemão Sauerkraut), trata-se de outra iguaria consumida por diferentes povos desde muito antes da Idade Média. Durante o rigoroso inverno europeu, o chucrute era uma importante fonte de vitamina C. O chucrute pode ser fermentado durante períodos super longos (muitos meses); no nosso caso, fizemos uma fermentação “curta”, de apenas dez dias.

A mostarda, por fim, é um condimento que era consumido bem antes da Idade Média, mas que também é um dos molhos mais mencionados em textos de receitas medievais – além de ser o complemento perfeito para linguiça e chucrute.

E o Hahn, como dissemos, é um braggot.


O braggot é, essencialmente, um hidromel feito com grãos ou, se você preferir, uma cerveja feita com mel. Hoje em dia, considera-se necessário que haja uma quantidade considerável de mel para distingui-lo de uma Honey Beer comum (“cerveja com mel”), que seria simplesmente uma cerveja feita com um pouco de mel para aromatizar (o que não deixa de ser histórico, já que o mel tem sido usado desde sempre como uma fonte primária de açúcares como agente fortificador de bebidas fermentadas).

Historicamente, contudo, as definições tendem a não ser tão precisas. O braggot (também chamado de bracket ou brakkatt, entre outros nomes) é frequentemente associado à história da Grã-Bretanha medieval. Amplamente consumido durante a Idade Média, ele antigamente poderia ser tanto o mosto de ale fermentado com mel quanto uma mistura de ale e hidromel já fermentado. Conforme o lúpulo ganhou popularidade nas Ilhas Britânicas, passou a ser usado também no braggot.

No caso do Hahn, a primeira característica notável da experiência é sua alta carbonatação, que gerou uma grande quantidade de espuma ao abrirmos a garrafa.


A cor é escura, algo entre o castanho escuro e o preto. A própria espuma apresenta uma coloração caramelizada.


No paladar, assim como na aparência, ele lembra bastante uma cerveja escura. Com efeito, se não soubéssemos tratar-se de um braggot, provavelmente pensaríamos estar bebendo uma Dark Strong Ale. O aroma lembra um pouco o mel, mas na boca a doçura é bem equilibrada com o amargor do lúpulo, havendo ainda características de caramelo.


A experiência foi excelente. Recomendamos para os apreciadores de bebidas históricas que já conheçam os hidroméis mais comuns e queiram variar um pouco. A combinação com linguiça e chucrute também está mais do que recomendada ;)

Dados técnicos


O Hahn é produzido com mel de florada silvestre e malte composto majoritariamente de cevada, mas com pequeno percentual de trigo também. O tempo de fermentação é de aproximadamente duas semanas.

A levedura utilizada na safra/brassagem que experimentamos foi de um tipo próprio para fermentação de vinhos, mas o produtor eventualmente utiliza também leveduras de cerveja. Além do mel, cevada e levedura, é utilizado também um tipo de lúpulo bem sutil, que proporciona um amargor bem equilibrado com o dulçor, sem prejudicar as notas de caramelo do malte e o aroma de mel.


A refermentação que gera a carbonatação é feita na própria garrafa, em temperatura controlada.

A graduação alcoólica da safra que experimentamos era de 9,7%.

A produção do Hahn é bem caseira e artesanal, de no máximo 60 litros por brassagem. O produtor faz experiências com diferentes tipos de levedura e alterações na fórmula, de modo que cada brassagem dá origem a um produto diferente e único.

(informações fornecidas pelo produtor)

O valor de venda da garrafa é R$ 20,00 (500ml).


Página do Hahn no facebook:


E você, já provou o Hahn? Nos conte o que achou!


Veja também os outros hidroméis que já experimentamos nesta coluna:


Julho – Bee Gold, de Sorocaba/SP

Agosto – Velho Oeste, de Xanxerê/SC

Setembro – Alfheim, de Cachoeirinha/RS

Outubro – Ferroada, de Contagem/MG

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