Hail, medievalistas e apreciadores de hidromel!
Chegamos ao penúltimo artigo do ano em nossa coluna de hidroméis, na
qual procuramos experimentar e falar de um hidromel brasileiro por mês. E o
hidromel deste mês de Novembro é o Hahn, produzido em Dois Irmãos/RS, que na
verdade não é um hidromel puro, mas sim um Braggot!
Trata-se do segundo hidromel gaúcho do qual tratamos aqui na coluna (o
primeiro foi o Alfheim, em Setembro). E o nome do hidromel é o sobrenome do
produtor, Ricardo Hahn, que já tendo desde 2009 experiência na produção de hidromel puro, decidiu em 2015 partir para a produção do braggot, que representava a mistura de duas paixões, o hidromel e a cerveja.
Ainda não conhece o hidromel? Veja aqui nosso artigo com um pouco da
história e curiosidades dessa fantástica bebida fermentada. No final desse
artigo, havíamos mencionado alguns nomes que permeiam a tipologia dos
hidroméis, tais como melomel, cyzer e metheglin – e para você que está começando a conhecer a bebida
agora, o braggot é mais uma variação que vale a pena conhecer.
A experiência
Para acompanhar o Hahn, decidimos fazer este mês uma receita mais
rústica e forte, e a combinação não poderia ter sido melhor: linguiça, chucrute
e molho de mostarda. Os três elementos dessa nossa refeição têm suas origens
bem antes da Idade Média, mas eram certamente muito populares na Europa durante
o período medieval.
A linguiça é uma das formas mais antigas de processamento de carne. Embora
sua origem remonte à antiguidade clássica, foi durante a Idade Média que a
produção se tornou abundante. Há uma infinidade de qualidades de linguiça, que
variam conforme o método de preparo e recebem nomes de acordo com a região de
onde são provenientes (calabresa, por exemplo), mas essencialmente a linguiça é
um enchido de carne, feito para durar longos períodos antes do consumo. No
nosso caso, usamos uma linguiça de pernil de porco.
O chucrute segue uma lógica parecida, pois é uma conserva de repolho
fermentado que pode durar longos períodos. Embora seja muito associado com a
cultura germânica (a palavra chucrute vem do alemão Sauerkraut), trata-se de outra iguaria consumida por diferentes
povos desde muito antes da Idade Média. Durante o rigoroso inverno europeu, o
chucrute era uma importante fonte de vitamina C. O chucrute pode ser fermentado
durante períodos super longos (muitos meses); no nosso caso, fizemos uma
fermentação “curta”, de apenas dez dias.
A mostarda, por fim, é um condimento que era consumido bem antes
da Idade Média, mas que também é um dos molhos mais mencionados em textos de
receitas medievais – além de ser o complemento perfeito para linguiça e
chucrute.
E o Hahn, como dissemos, é um braggot.
O braggot é, essencialmente, um hidromel feito com grãos ou, se você
preferir, uma cerveja feita com mel. Hoje em dia, considera-se necessário que
haja uma quantidade considerável de mel para distingui-lo de uma Honey Beer comum (“cerveja com mel”), que seria simplesmente uma cerveja feita com um
pouco de mel para aromatizar (o que não deixa de ser histórico, já que o mel
tem sido usado desde sempre como uma fonte primária de açúcares como agente
fortificador de bebidas fermentadas).
Historicamente, contudo, as definições tendem a não ser tão precisas. O
braggot (também chamado de bracket ou
brakkatt, entre outros nomes) é
frequentemente associado à história da Grã-Bretanha medieval. Amplamente
consumido durante a Idade Média, ele antigamente poderia ser tanto o mosto de ale fermentado com mel quanto uma
mistura de ale e hidromel já
fermentado. Conforme o lúpulo ganhou popularidade nas Ilhas Britânicas, passou
a ser usado também no braggot.
No caso do Hahn, a primeira característica notável da experiência é sua
alta carbonatação, que gerou uma grande quantidade de espuma ao abrirmos a
garrafa.
A cor é escura, algo entre o castanho escuro e o preto. A própria espuma
apresenta uma coloração caramelizada.
No paladar, assim como na aparência, ele lembra bastante uma cerveja
escura. Com efeito, se não soubéssemos tratar-se de um braggot, provavelmente
pensaríamos estar bebendo uma Dark Strong
Ale. O aroma lembra um pouco o mel, mas na boca a doçura é bem equilibrada
com o amargor do lúpulo, havendo ainda características de caramelo.
A experiência foi excelente. Recomendamos para os apreciadores de
bebidas históricas que já conheçam os hidroméis mais comuns e queiram variar um
pouco. A combinação com linguiça e chucrute também está mais do que recomendada
;)
Dados técnicos
O Hahn é produzido com mel de florada silvestre e malte composto
majoritariamente de cevada, mas com pequeno percentual de trigo também. O tempo
de fermentação é de aproximadamente duas semanas.
A levedura utilizada na safra/brassagem que experimentamos foi de um
tipo próprio para fermentação de vinhos, mas o produtor eventualmente utiliza também
leveduras de cerveja. Além do mel, cevada e levedura, é utilizado também um
tipo de lúpulo bem sutil, que proporciona um amargor bem equilibrado com o
dulçor, sem prejudicar as notas de caramelo do malte e o aroma de mel.
A refermentação que gera a carbonatação é feita na própria garrafa, em
temperatura controlada.
A graduação alcoólica da safra que experimentamos era de 9,7%.
A produção do Hahn é bem caseira e artesanal, de no máximo 60 litros por
brassagem. O produtor faz experiências com diferentes tipos de levedura e alterações
na fórmula, de modo que cada brassagem dá origem a um produto diferente e
único.
(informações fornecidas pelo produtor)
O valor de venda da garrafa é R$ 20,00 (500ml).
Página do Hahn no facebook:
E você, já provou o Hahn? Nos conte o que achou!
Veja também os outros hidroméis que já experimentamos nesta coluna:
Julho – Bee Gold, de
Sorocaba/SP
Agosto – Velho Oeste,
de Xanxerê/SC
Setembro – Alfheim, de
Cachoeirinha/RS
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