Salve, metaleiros, folkers e medievalistas!
No último sábado, 26 de Novembro, aconteceu em São Paulo o segundo dia
do Odin’s Krieger Heathen Edition, que teve como principal e grande atração
ninguém menos do que o Heidevolk. E antes do show nós do Cena Medieval tivemos
a oportunidade de entrevistá-los.
A entrevista foi muito bacana, eles são muito gente fina. Dos seis
membros, quatro participaram da entrevista conosco: Joost den Vellenknotscher (baterista), Rowan Roodbaert
(baixista), Koen Pieter (um dos guitarristas) e Jacco De Wijs (um dos vocalistas). Joost e
Rowan são os que estão na banda há mais tempo (no caso de Joost, desde a
fundação da banda, há 14 anos), mas todos eles têm coisas interessantes pra
contar.
Skald: Vocês já tiveram contato com fãs brasileiros
antes de vir para o Brasil?
Rowan: Sim! Em 2005 ou 2006, eu acho, nós tivemos
bastante contato, naquela época ainda pelo Myspace... Muitas pessoas nos escreviam,
mandavam e-mails, e eu me lembro pois eu estava cuidando das encomendas, que as
pessoas no Brasil encomendavam camisetas, CDs, e algumas vezes elas apenas
pediam autógrafos. Eu acho que houve uma garota que encomendou duas camisetas e
também pediu cartões autografados, então eu coloquei algumas coisas extras, um
CD...
Skald: Ela deve ter ficado bem feliz!
Rowan: Sim, ficou! E ela também escreveu para uma
gravadora do Brasil pedindo para eles licenciarem o Walhalla Wacht (nosso álbum
de 2008), e eles lançaram o CD por aqui. É uma forma de as coisas funcionarem,
sabe?
Skald: É muito legal saber que vocês já tiveram esse
tipo de contato com os seus fãs por aqui, pois eles gostam muito de vocês, mas
é difícil vocês virem pra cá quando o folk metal não é tão popular no Brasil.
Rowan: Tem mil e quinhentas pessoas nesse momento!
(risos)
Joost: Teve também uma outra garota que encontramos
na quinta-feira... ela tinha um desses cartões autografados, de 2008, e ela
pediu para autografarmos de novo! Foi muito legal.
Skald: Uma outra coisa sobre a qual estou curioso: eu
li em algum lugar que vocês não são músicos em tempo integral, que vocês tem
empregos “normais”...
Rowan: Sim, empregos normais!
Joost: Nada da rockstars aqui!
(risos)
Skald: Como é para vocês ter empregos normais e de
vez em quando tocar folk metal pelo mundo?
Joost: É uma merda.
(muitos risos)
Skald: Por curiosidade, quais são os empregos de
vocês?
Joost: Eu sou engessador.
Rowan: Eu sou analista de negócios de um hospital,
trabalho com a equipe de vendas, lido com as companhias de seguro, enfim...
Koen: Eu trabalho meio-período em um escritório, na
parte administrativa. E hoje eu também sou escritor, publiquei um livro esse
ano.
Skald: Que legal! Que tipo de livro?
Koen: Ficção científica.
Skald: Bacana, eu gostaria de ler!
Koen (triste): É em holandês...
(risos)
Skald: Bom, quando você publicar em inglês, então!
Koen: Você vai ver a mesma coisa com todos os
membros da banda. Todos nós fazemos tipos diferentes de trabalho. Não é algo de
que a gente goste particularmente, mas no nosso país você simplesmente precisa
fazer isso, pois não dá pra fazer dinheiro suficiente com música. Até é
possível, mas nós teríamos que ficar em turnê o ano inteiro, todo dia, eu tenho
esposa e filho, então...
Skald: Não apenas na Holanda, isso também acontece
com as bandas aqui do Brasil (algumas das que estão aqui, por exemplo). Mas nós
algumas vezes formamos uma imagem das bandas europeias que vem pra cá, então é
surpreendente saber que vocês tem empregos “normais” e não vivem da música de
vocês.
Jacco: Como você pode ver, nós não somos tão
diferentes...
(risos)
Skald: E qual é o seu emprego normal, Jacco?
Jacco: Eu sou técnico de som num teatro e construtor
de órgãos.
Skald: Legal, é de alguma forma relacionado com
música, pelo menos.
Jacco: Sim, felizmente eu tenho um emprego que é
próximo da música, do teatro e da parte criativa das coisas, mas também tem
muito de empurrar caixas e carregar caminhões.
(risos)
Skald: Agora falando em folk-metal, o estilo de vocês
é bem peculiar. Vocês chamam de pagan-folk-metal,
certo?
Todos: Sim.
Skald: Vocês podem fazer algum comentário sobre a
temática das letras? Vocês se consideram como odinistas ou algo assim?
Rowan: Acho que não. Nós não somos pessoas que
acreditam nos deuses. Quero dizer, se você me perguntasse se Odin e Thor são
reais, eu diria que não, eles eram explicações das pessoas para como as coisas
aconteciam.
Skald: Explicações para a natureza, certo?
Rowan: Sim, para a natureza, ou para perguntas como
por que as coisas acontecem, por que existe o trovão, por que as pessoas se
desiludem, por que as pessoas morrem e por que as pessoas vivem... Então, eu
acho que é um bom jeito de sentir o mundo. Eu acho que um aspecto importante do
paganismo é que o jeito deles de pensar era que neste momento você está vivo,
mas as coisas que vão sobreviver são as histórias que contarem sobre você. Você
não tem que fazer uma fama para si mesmo, mas o que todos vão lembrar são as
histórias sobre você.
Skald: É um jeito bem bonito de explicar as coisas.
Eu gosto bastante das letras de vocês... eu preciso colocar no google translator pra entender, mas eu
gosto bastante!
(risos)
Skald: Vocês podem citar algumas das bandas de
folk-metal favoritas?
Rowan (pensativo): Quando começamos, o Thyrfing foi uma
influência... o Skyforger...
Joost: Não é exatamente folk-metal, mas Bal-Sagoth
teve alguma influência...
Rowan: Acho que o Finntroll também...
Skald: Acredito que a banda brasileira de folk-metal
mais conhecida seja o Tuatha de Danann. Já ouviram falar?
Jacco: Eu já.
Skald: Você gosta? Pode ser honesto!
Jacco: Sim, com certeza! Preciso admitir que não
tenho nenhum CD deles-
Rowan (brincando): O QUE? Então como você escutou a música?
(risos)
Jacco: Na verdade quem me apresentou a banda foram os
pais de uma ex-namorada. Pais bem modernos, sabe?
Rowan: Mas eles compraram o CD, certo?
Jacco: Sim, eles compraram...
Rowan: Uffa...
Skald: Legal saber que você conhece! Minha próxima
pergunta: a dupla de vocais masculinos e limpos é uma marca registrada de
vocês. De onde veio a ideia de formar uma banda com esse conceito?
Joost: Na verdade é uma história bem engraçada. Nós
estávamos saindo de um ensaio de uma banda que nós tínhamos, um projeto de
black metal, e nos sábados nós íamos a um bar de metal. E num certo momento
naquela noite eu fui convidado pra tocar bateria num grupo de folk-metal, os
caras já tinham algumas idéias... e algumas cervejas depois eu estava falando
com outra pessoa, que no caso era o irmão do Rowan, que me falou de um projeto
pra cantar sobre vikings, mitologia, natureza, e eu disse ‘Ei, talvez você
devesse falar com aquele cara ali’, e foi assim que as coisas se misturaram e
ficamos com dois vocalistas.
Skald: Então não foi algo que vocês planejaram, foi
algo que apenas aconteceu!
Joost: Sim, apenas aconteceu! Depois de algumas
cervejas num bar... e agora aqui estamos nós no Brasil!
(risos)
Rowan: É como as coisas acontecem... No álbum Velua
nós temos uma música chamada Urth, que é sobre a deusa do destino Urth, que
tece os fios da vida, ela é uma das Nornas. E quando as pessoas conversam, ela
tranças os fios dessas pessoas juntos. Então um jeito legal de pensar sobre
isso é que naquela noite havia os fios de uma banda sem vocalista, os fios de
vocalistas sem banda e o fio de um baterista... e ela colocou um nó ali!
Skald: É um jeito muito legal de explicar, realmente!
E a minha última pergunta: como foi o show de ontem em Curitiba e o que vocês
esperam do show de hoje à noite aqui em São Paulo?
Jacco: Ontem foi incrível. O pessoal foi bem
barulhento, você podia vê-los cantando as músicas, foi fantástico.
Joost: Nós não tínhamos ideia do que esperar, mas foi
ótimo. E eu tenho a impressão de que hoje vai ser melhor ainda!
Skald: Eu posso dizer que nós brasileiros realmente
gostamos de sentir a música!
Jacco: Dá pra perceber!
(risos)
Rowan: É importante para nós quando estamos tocando
ao vivo colocar energia na apresentação inteira, nós damos isso às pessoas, e
quando nós recebemos isso de volta é tipo... wow! E então nós damos essa
energia de volta, e recebemos de novo, e assim por diante, e passa a ser uma
grande festa!
Skald: Isso deve ser muito legal para a banda.
Joost: Sim, muito!
Skald: E quando vocês estão fazendo turnês em outros
lugares não é assim?
Koen: Depende da situação, do país e de vários
outros fatores... No ano passado nós tocamos em vários festivais pela Europa,
também para grandes públicos, algumas vezes de muitos milhares de pessoas, mas
a coisa num festival é que as pessoas vem pra ver uma variedade grande de
bandas, talvez 10 ou 15 bandas, e nós somos apenas uma delas, então sempre tem
algumas centenas de pessoas que estão ali curtindo o Heidevolk, mas o resto não
está tão interessado. Mas aqui nós estamos numa casa de shows, e tocar numa
casa de shows para um público como esse... aí é outra história. Normalmente nós
tocamos para algumas centenas de pessoas em casas de shows, e elas estão todas
ali pelo Heidevolk, mas agora estamos aqui com esse público enorme, então vamos
ver o que acontece.
Joost: Essa é a principal diferença, porque
normalmente nós faríamos um show como esse com duas ou três outras bandas, e
obviamente uma parte das pessoas viria por causa e outra banda, e ontem eu tive
a impressão de que todos vieram principalmente por nossa causa, e foi tipo...
wow! Todo mundo, sabe? Foi muito intenso.
Skald: Bom saber! Então, gente, essas foram as minhas
perguntas. Tem mais alguma coisa que vocês queiram dizer para os seus fãs no
Brasil?
Rowan: Eu também respondi isso na última
entrevista... Se alguém não conseguiu vir nos ver hoje ou ontem, ou se alguém
nos viu e quer ver de novo, nós realmente esperamos estar de volta no ano que
vem ou talvez em um ano e meio. Depois desse primeiro show... na verdade logo
depois da segunda música, eu disse ‘ok, essa é a nossa primeira vez e agora nós
não queremos ir embora!’.
Joost: E claro: obrigado por nos receberem e por nos
apoiarem. É muito, muito legal saber que nós temos uma família como essa por
aqui. Esperamos voltar em breve!
Apesar de serem apenas 15 minutos de entrevista, deu pra conversar
bastante, como vocês podem ver. Depois do show aqui em São Paulo eles foram
para Buenos Aires, para concluir essa mini-turnê sulamericana antes de voltar
para casa. Esperamos que eles realmente tenham curtido a passagem por aqui e
que voltem logo.
E logo mais eu devo postar a resenha completa do evento no sábado, com
as fantásticas fotos de Sergio Scarpelli.
Acompanhem o Cena Medieval!
Veja também aqui no Cena Medieval:
Resenha do Odin’s Krieger Heathen Edition em Curitiba, o primeiro dia
dessa edição e o primeiríssimo show do Heidevolk em terras brasileiras
Heidevolk, nosso artigo com um pouco da história da banda
E as fotos da edição anterior do
festival, que aconteceu no começo do ano:
Tenho Certeza que o Cena é o ínicio de algo muito importante, pois o blog passa das bareiras, da música, do metal, etc... e alcança outros lugares dentro da cultura medieval.
ResponderExcluirNão conheço ninguém a nível nacional que faz esse trabalho.
ótimo entrevista caras!
Um abração!
Amei a entrevista. Valeu Cena Medieval, wow!!
ResponderExcluirÓtima entrevista \o
ResponderExcluiros caras são simpáticos demais, desceram do palco depois do show, cumprimentaram a gente, veeei, sem palavras, com certeza vou no próximo show ♥