Ainda não leu a Parte I? Veja antes!
Crônicas do Mundo Medieval, Parte
II – A chegada do último inverno
Texto por Skald Rafael e Daniel Felipe
História por Daniel Felipe (organizador do Mundo Medival)
Cinco semanas se passaram desde a partida do mensageiro, Sir
Carnoval, e com elas terminou o outono.
Dia após dia, Rei Ellengard observa a estrada de sua sacada. Seus olhos
mirando o Sul, ansiosamente a esperar pela silhueta de seu filho. Por vezes,
chegava a vê-lo, ao que forçava os olhos, desiludindo-se com o vazio.
Os peticionantes, nobres e plebeus, faziam filas cada vez maiores para
ter com o rei, que a cada dia tinha menos paciência ou vontade de fazer
qualquer coisa que não fosse olhar pela janela e esperar para abraçar Príncipe Martín,
seu amado filho.
O jovem conselheiro Jon, preocupado com a situação de seu rei, convocou um grupo de dançarinos para distraí-lo. Draumur, os melhores do reino, que sempre entretiveram Rei Ellengard em suas festas.
E eles dançaram nos jardins
do castelo enquanto o rei assistia de um ponto mais elevado.
Normalmente o rei sorria vendo os dançarinos, mas daquela vez, o máximo
que eles conseguiram foi colocar o rei num devaneio ainda mais introspectivo,
lembrando-se da época de sua juventude e de como gostava de dançar... não as
danças lentas e monótonas da corte, mas aquelas rápidas e agitadas danças
circulares que aconteciam nas festas dos plebeus, nas quais ele podia abraçar
uma jovem camponesa e sentir o calor de seu corpo, o perfume de sua pele e
talvez ouvir o sim de sua risada... Foi assim que conhecera Villenya, a Rainha.
E nem mesmo ela conseguia fazê-lo sair de seus pensamentos e aflição.
Após a apresentação dos dançarinos, o rei voltou para sua janela para
esperar por seu filho.
Mais uma vez uma silhueta, mais uma vez ele forçou e esfregou os olhos,
mas desta vez era mesmo alguém: o grandioso Sir Carnoval, o mensageiro, que retornava sozinho.
O rei, preocupado com o que poderia ter acontecido a Martín, sentiu um
tremendo frio e acobertou-se em sua manta. Enquanto olhava a armadura
resplandecente de Sir Carnoval se aproximar, os piores pensamentos lhe ocuparam
a mente já aflita. O cavaleiro não apenas chegava sozinho, como chegava junto
com o inverno... um mal presságio... Não queria sequer pensar... mas... teria o seu filho morrido na luta contra os
bárbaros sulistas?
O mensageiro foi recebido no salão do trono.
‘Majestade...’
‘Vejo que retornou sozinho. Aconteceu algo a meu filho? Seja direto’ – e o rei sentiu que, a depender da resposta,
poderia morrer ali mesmo.
‘Não, Majestade... os Deuses favorecem o Príncipe Martin no campo de
batalha. Eu o vi brevemente. Quando cheguei ao acampamento ele estava de
partida e quem me recebeu foi Sir Allenar.’
O rei respirou aliviado. Recebeu das mãos do cavaleiro um pequeno rolo
de papel, selado com o sinete de Sir Allenar, um “A” rebuscado em cera vermelha.
Quando começou a ler, o rei reconheceu a caligrafia de seu conselheiro
mais antigo.
Vossa Majestade,
Nossos esforços para conter as
hordas bárbaras do Sul têm sido extremos. Sua Alteza e amado filho, Príncipe
Martín, segue no campo de batalha a comandar e inspirar nossas tropas.
Temo que lhe seja inviável
abandonar as fileiras agora, nesse momento crucial da batalha. No entanto, ciente
desse mal que assola Vossa Majestade, sugiro que a regência seja confiada
temporariamente a um de nossos mais próximos e estimados senhores.
Como vosso humilde conselheiro,
sugiro que se faça um festival, em que os convidados possam escolher dentre os
mais respeitáveis nobres aquele que exercerá a regência.
A carta continuava ainda com sugestões e considerações de Sir Allenar
sobre nomes de homens e mulheres na corte que poderiam exercer a regência. A
despeito do desgosto por ter sua ordem ignorada por seu filho, o rei sentiu um
alívio por saber que ele estava vivo e bem.
Martín é mesmo sangue de meu
sangue. Ellengard sabia que, quando
jovem, também teria permanecido em batalha. Sorriu.
E no fim das contas, a sugestão de Allenar era razoável. Uma grande
festa poderia acalmar os ânimos de alguns nobres... Sim, uma grande festa com
torneio e artistas, como aqueles dançarinos que ele havia visto mais cedo... E
se os nobres pudessem opinar na escolha do regente, talvez houvesse uma chance
de paz dentro do reino até o retorno do príncipe... Sim, um festival em seu
castelo!
Continua na Parte III...
Veja também aqui no Cena Medieval:
Mundo Medieval: Gravação dos teaser do evento – estivemos presentes na gravação e contamos como foi!
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