Salve, medievalistas!
Como já comentamos por aqui, o Mundo Medieval, evento que acontecerá em 02 de Julho em Mauá (SP), será pioneiro em
alguns aspectos. Em primeiro lugar, será realizado num cenário de castelo. Além
disso, haverá uma trama que envolverá os convidados: eles deverão votar para
eleger o regente que deverá substituir o Rei Ellengard.
Mas por que o Rei precisa ser substituído? Para contar essa história, o
Cena Medieval se juntou à organização do evento, e preparamos as Crônicas do
Mundo Medieval, que serão contadas em três partes.
Eis então a primeira...
Crônicas do Mundo Medieval, Parte I – A fadiga
do Rei Ellengard
Texto por Skald Rafael e Daniel Felipe
História por Daniel Felipe (organizador do Mundo Medival)
O sol era de um dos últimos dias de outono, e ainda estava baixo no céu.
Sua luz banhava o castelo e entrava pela grande janela, aberta.
Rei Ellengard, sentado sozinho à mesa de madeira, terminava seu
desjejum. Comia lentamente, vaguejando em seus próprios pensamentos, receios,
temores.
'Majestade?', uma voz distante ecoava de fora de seu devaneio, mas ele a
ignorava.
Em sua mente, se passavam cenas de sua juventude. Lembrava saudosamente
de uma época em que ainda era capaz de montar e cavalgar por horas sem
descanso. Naquela época, podia ver cada beleza de seu reino com os próprios
olhos.
Agora a visão já lhe falhava e as costas mal podiam sustentá-lo, e
cavalgar por pouco tempo já era difícil. Agora ele via o reino apenas pelos
relatos de seus conselheiros e coletores de impostos, e enquanto eles falavam, fechava
os olhos, tentando relembrar de cada lugar, cada conquista, cada beleza.
Mas os relatos, sem cor, sem aroma e sem graça, falavam apenas de números
de arrecadação, de pontes a reparar, de moinhos a erguer, de tudo que não fosse
histórias de pessoas, belezas de montes e rios.
'Majestade?', a voz insistia.
Relutantemente, o rei olhou para o responsável por trazê-lo de volta ao
tempo presente. Era Jon, seu conselheiro mais jovem e assistente pessoal, que
estava de pé ao seu lado.
'Majestade, há trinta e quatro peticionantes que aguardam para vê-lo.
Dei prioridade para aqueles que vieram ontem e não conseguiram audiência.
Prefere recebê-los aqui ou no salão do trono?'
Prefiro não receber ninguém, pensou Rei Ellengard. Seu silêncio moroso
deixava isso bem claro.
Mas aquela não era uma opção. O esforço de sair da pequena sala
privativa onde fazia suas refeições e ir até o salão do trono exigiu uma força
de vontade extrema. E mesmo enquanto estava sentado no trono, olhando para os
peticionantes, seus pensamentos o levavam a diversos outros lugares.
Os primeiros peticionantes eram nobres que controlavam terras contíguas
e estavam travando uma disputa por um moinho. Depois vieram notícias de um
coletor de impostos que fora morto durante seu exercício de coleta,
supostamente por camponeses, e o vassalo que controlava aquelas terras
solicitava auxílio para que a justiça do rei fosse feita. Problemas mais ou
menos similares se seguiram, e depois do décimo peticionante, ou algo assim, o
rei já não conseguia prestar atenção em mais uma palavra sequer.
'Estou cansado. Por hoje é só.'
'Mas Majestade...', Jon estava sinceramente aflito, quando balbuciou,
tímido a olhar para o chão, obrigado a lembrar o rei de seus próprios deveres: 'Perdoe-me, mas... Ainda há muitos peticionantes... alguns deles são... são...
Lordes... e vieram de muito longe para vê-lo...'
Com um olhar de enfado, o rei sorriu. Um lampejo de liberdade e alegria,
uma traquinagem, um alívio, um ato de irresponsabilidade a que se permitiu: 'Sente
no trono. Hoje você falará com a minha voz e julgará em meu nome'.
Por um momento se lembrou de sua juventude, intrépida.
De volta aos seus aposentos, o rei refletiu. Ele possuía apenas um
herdeiro legítimo, o príncipe Martín, que no momento estava no meio de uma
campanha militar na fronteira sul do reino, que era constantemente uma área
problemática, em razão dos bárbaros sulistas.
Inicialmente, o rei havia destacado seu conselheiro mais velho, Sir
Allenar, para cuidar daqueles problemas no sul, mas Allenar havia sugerido que
Martín participasse da campanha, para inspirar as tropas e ter contato com os
problemas do reino de perto, e não apenas pelos relatos de subordinados.
Por sua experiência de vida, o rei Ellengard havia concordado com Allenar.
Mas isso já fazia quase dois anos. O rei agora sentia mais do que nunca o peso
da idade, e sentiu que era hora de ter seu filho junto a si novamente.
Mandou chamar Sir Carnoval, um de seus cavaleiros, e confiou-lhe a
missão de buscar o príncipe, pois era chegada a hora de seu descanso. Talvez
pudesse tentar cavalgar novamente em uma longa viagem por seus lugares
preferidos, depois que Martín assumisse o trono.
No dia seguinte, o cavaleiro partiu, e o rei passou a contar os dias, fitando
o horizonte pela janela de sua torre, pensando apenas no retorno de seu filho...
Veja também aqui no Cena Medieval:
Mundo Medieval: Gravação dos teaser do evento – estivemos presentes na
gravação e contamos como foi!
Muito bom! Espero que a segunda parte seja publicada logo :)
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