Hail, amigos!
O post de hoje é especial, pois
vou falar de um grupo musical que é certamente um dos principais ícones da cena
medieval brasileira. Eles surgiram junto com o cenário medieval no Brasil, antes
de boa parte dos eventos que temos hoje, e ao longo dos anos contribuíram muito
para que a cena crescesse.
E além de estarem presentes em
boa parte dos eventos medievais do país, eles organizam anualmente um evento
próprio, que é uma das principais festas da nossa agenda medieval.
Um pouco da história do Taberna Folk
O Taberna surgiu, de certa forma,
por acaso. Em 2008, Ricardo Amaro, que é formado em música pelo Conservatório
de Tatuí, foi chamado para participar de um evento chamado Festa Medieval em Campinas. Porém, apesar do nome medieval, o evento contava apenas
com bandas de metal, e o desafio era justamente preparar uma apresentação que
fizesse jus à temática proposta pelo nome da festa. Para isso, Ricardo chamou
os amigos Hugo Taboga e Luís Henrique Romagnolo, além de sua esposa Karina
Moreno, e os quatro ensaiaram um set de 10 músicas para uma única apresentação,
incluindo canções celtas, medievais e uma música irlandesa. Nessa época, o
projeto era despretensioso e recebeu o nome de apenas “Taberna”.
Mas a apresentação foi tão boa e
o entrosamento dos músicos deu tão certo que foi inevitável a vontade de
transformar aquilo num projeto de verdade. Além disso, começava a surgir uma
demanda de músicos que pudessem animar uma festa de temática medieval. Logo a
banda passou a se chamar Taberna Folk, um nome que indica bem aquilo que
passaria a ser a proposta do grupo: música de estilo folk, perfeita para animar
e trazer o público ao clima de uma taberna nos tempos antigos, de preferência
com muito vinho, cerveja e hidromel.
Naquela época, em 2008, a cena
medieval do país ainda engatinhava, praticamente não havia eventos medievais da
forma como temos hoje. Esses eventos começaram a surgir aos poucos, conforme os
grupos medievais também surgiam. Justamente por isso, em 2009 eles organizaram
uma pequena festa, onde tocariam basicamente para amigos e conhecidos. No
entanto, essa festa acabou sendo a primeira edição do Jantar Medieval, que logo
se transformou num grande evento (falarei mais disso abaixo).
Ainda em 2009 a banda gravou seu
primeiro CD Demo, intitulado Medieval,
Celtic and Epic Songs, que continha uma composição própria da banda (After a hard day), além de seis outras
interpretações da banda de canções tradicionais europeias.
Em 2010, Anderson Tosta (mais
conhecido como “Bardo”) entrou na banda para tocar violino e harpa, além de
trazer mais influências da música irlandesa, seu foco de estudo.
Em 2013 a banda gravou seu
primeiro DVD em Cosmópolis (cidade da maioria dos membros), e em 2014 seu
segundo CD (sendo que todos esses trabalhos foram produzidos de forma
completamente independente).
O Taberna Folk hoje
Hoje eles se denominam um grupo
de Música Folk Europeia, pois não se limitam a músicas medievais (estritamente
falando, o período medieval vai do século V ao XV). Ou seja, apesar de algumas
músicas interpretadas pela banda de fato remontarem ao período medievo, o
repertório acaba sendo bem mais variado que isso e inclui canções de períodos
históricos mais recentes, advindas principalmente das tradições germânicas,
celtas e nórdicas, bem como canções contemporâneas adaptadas para uma roupagem folk.
Da parte medieval do repertório
do grupo, podemos ressaltar as canções Saltarello
e In Taberna. Saltarello é uma dança antiga, cuja primeira menção conhecida está
num manuscrito do séc. XIV de provável origem toscana, e que supostamente foi
muito popular nas cortes medievais europeias (essa mesma dança faz parte do
repertório do grupo de danças medievais Draumur, de São Paulo). In Taberna é orginalmente um poema
secular do manuscrito Carmina Burana, um conjunto de textos datado do séc.
XIII. Alguns dos poemas desse manuscrito foram musicalizados em 1936 pelo
compositor alemão Carl Orff, sendo esta a origem da versão interpretada pelo
Taberna Folk.
Da parte mais moderna do repertório,
um ótimo exemplo é a canção Son Ar Chistr,
composta em 1929 na língua bretã e que tem sido usada por diversos grupos de
música folk pelo mundo. A versão cantada pelo Taberna Folk é baseada na
interpretação em alemão dada pela banda holandesa Bots em 1976 (que é uma das
versões que popularizou a canção). Em alemão, recebe o nome Sieben Tage Lang.
Uma das muitas apresentações feitas no Sesc Vila Mariana |
Outro exemplo, ainda mais
moderno, é a divertidíssima Estamos todos
bêbados; apesar de ser excelente em sua versão original (lançada em 2006
pela banda Matanza), a música nasceu pra ser interpretada pelo Taberna Folk – é
só conferir a letra e a típica história de taberna que ela conta.
Por fim, o Taberna faz também
suas interpretações de temas de trilhas sonoras, tais como Concerning Hobbits (uma das músicas mais emblemáticas da trilha
sonora de O Senhor dos Anéis,
composta por Howard Shore) e a icônica abertura do seriado Game of Thrones (composta por Ramin Djawadi).
É bacana explicar que a música
folk pode ser definida como um tipo de música popular que guarda relação com a
cultura de um povo ou local. Na Europa os grupos de música folk são comuns e
representam verdadeiros resgates culturais, muitas vezes mesclados com
elementos modernos. No Brasil, o Taberna é um dos grupos pioneiros nessa
temática, e certamente um dos primeiros a fazer um expresso resgate de músicas
tradicionais europeias.
Dessa forma, boa parte da
inspiração vem do trabalho de grupos europeus que já há bastante tempo
trabalham com esse resgate, tais como Die Irrlichter (Alemanha), Stary Olsa
(Bielorússia), Calenda Maia (Chile), Rapalje (Holanda), Lúnasa (Irlanda),
Faun (Alemanha), Corvus Corax (Alemanha), Chieftains (Irlanda), entre outros.
Foto dando destaque aos diversos instrumentos típicos utilizados pela banda |
Em suas apresentações, o Taberna
Folk utiliza uma boa variedade de instrumentos antigos e tradicionais que
emprestam às músicas uma sonoridade bem folk, tais como mandola, flauta, bandolin,
gaita de fole, violino e harpa. Aliados às vestimentas de época e ao entusiasmo
do público, proporcionam um ambiente imersivo e muito divertido.
O famoso Jantar Medieval do Taberna Folk
Como se não bastasse animarem os
eventos da cena, eles criaram e organizam anualmente, na cidade de Cosmópolis,
um evento que é hoje um dos principais da cena.
Como eu mencionei no meu artigosobre O Jantar Medieval do Taberna Folk (publicado logo antes da edição de 2015
do evento), rezam as lendas que a primeira edição, em 2009, aconteceu de forma
super despretensiosa: uma festa improvisada, com cerca de 40 pessoas,
simplesmente porque a banda, recém formada na época, ainda não tinha onde
tocar. Aos convidados foi feito o pedido de que se caracterizassem com trajes
medievais.
Mas a festa intimista logo
evoluiu para um evento, que desde então se repete anualmente, sempre crescendo
em tamanho, atrações e principalmente em número de convidados. A edição de
2015, que foi a sétima, teve em torno de 1000 pessoas presentes.
Apresentação durante a VII Edição do Jantar Medieval |
A oitava edição acontecerá este
ano, em 11 de Junho. No entanto, como eu disse, este é um dos eventos mais
importantes da cena, e os ingressos são super concorridos. A venda acontece
cerca de dois meses antes do evento e os
ingressos nos últimos anos acabaram em questão de horas. Ou seja,
programe-se desde já para comprar seu ingresso assim que a venda começar. Obviamente,
publicarei aqui no Cena Medieval assim que eles liberarem a data de abertura
das vendas. Acompanhem o blog!
Por hoje, deixo vocês com o
Teaser do Jantar Medieval, que contém imagens da 5ª edição (2013) e a canção In Taberna, que citei acima:
Eis aí uma das melhores (senão a melhor) bandas folk do Brasil! E o mais incrível de tudo é saber que sua origem advém de um, digamos, "proposital acidente". Indubitavelmente marcou o início da Cena Medieval brasileira que antes da segunda década do século XXI era extremamente incipiente. Vida longa aos grandes camaradas do Taberna Folk!
ResponderExcluirRealmente uma surpresa para mim saber que existam grupos promovendo medievalismo no Brazil mesmo pq nosso pais nao teve esta fase historica.Sou um blogueiro e escritor medievalista ha mais de 20 anos mas conhecia somente um movimento literario voltado para a heranca historica da Idade Media
ResponderExcluirno Brasil.
Tenho dois Blogs Wordpress cujo conteudo puramente medievalista :
djalmabina.wordpress.com
geatland.wordpress.com
Curtam meu espaco medieval e comentem por favor !
Pois é, Donovan! O medievalismo é relativamente recente no Brasil, mas a cena tem crescido bastante nos últimos anos, cada vez com mais eventos, grupos e entusiastas.
ExcluirComo você mesmo disse, o Brasil não teve uma "Idade Média" como a conhecemos e estudamos, então o gosto dos medievalistas brasileiros é muito mais uma questão de romantização de um período histórico do que uma questão de herança histórica.
Pelo teor dos seus blogs (muito bacanas, por sinal), dá pra ver que você também é um medievalista entusiasmado. Tente ir em algum dos eventos da cena, se puder! Você vai curtir bastante.
Eu estava na primeira, e sim, foi só para os amigos mais "chegados", mas foi sensacional!
ResponderExcluirParabéns a todos amigos, sucesso sempre!
Abraços.